São José dos Campos, Sexta-feira, 27 de Julho de 2001

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Maior ícone cultural, Cassiano Ricardo fica sem memorial

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Principal ícone da história cultural de São José dos Campos, o poeta Cassiano Ricardo completaria, caso estivesse vivo, 106 anos ontem, véspera do aniversário de sua cidade natal.
Apesar de a Prefeitura de São José ter anunciado no ano passado que iria construir um memorial em homenagem ao escritor e que a obra seria inaugurada durante as comemorações do aniversário da cidade, o projeto ainda não saiu do papel.
Até agora, apenas uma pedra fundamental foi lançada no local da obra, que fica ao lado da avenida Cassiano Ricardo, no Jardim Aquarius, região nobre da cidade.
O memorial do escritor, que terá os seus restos mortais trazidos do mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, para São José, será projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Cassiano Ricardo nasceu em São José, no dia 26 de julho de 1895, e publicou mais de 50 livros de poesia e teoria literária. Formado em direito, o poeta exerceu as atividades de crítico, ensaísta, historiador e jornalista.
Embora tenha nascido em São José, Cassiano Ricardo permaneceu na cidade somente até 1912, quando se mudou para São Paulo com o intuito de estudar direito.
Após a conclusão do curso, em 1917, o poeta foi para Vacaria (RS), onde começou a exercer a profissão de advogado e a participar de movimentos políticos de oposição ao governo gaúcho.
De volta a São Paulo, no início da década de 30, o poeta trabalhou no Palácio do Governo até 1954. Ele morreu no Rio, em 1974.

Obras
Um dos líderes do movimento da reforma literária iniciada com a Semana de Arte Moderna em São Paulo, em 1922, Cassiano Ricardo escreveu seu primeiro livro de poesias, "Dentro da Noite", publicado em 1915, aos 16 anos, quando ainda morava em São José dos Campos.
O poeta participou ativamente de vários movimentos literários nacionalistas, entre eles o Verde-Amarelo, de 1929, ao lado dos escritores Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Alfredo Élis e Cândido Mota Filho.
No movimento, os autores exaltavam um país sem preconceito religioso, político ou étnico.
As obras de Cassiano Ricardo têm como característica principal o lema "Originalidade ou Morte", criado pelo próprio autor, na década de 20.
Dos seus primeiros livros -"Dentro da Noite" (1915) e "A Frauta de Pã" (1917)- aos últimos -"Jeremias Sem-Chorar" (1964) e "Os Sobreviventes" (1971)-, o poeta abriu e experimentou diferentes caminhos.
Aderiu aos movimentos literários neo-parnasianismo, simbolismo, modernismo, neo-romantismo e concretismo. Nas mãos do poeta, esses movimentos foram instrumentos conceituais na "fabricação" dos seus poemas.
O fato de ter sido companheiro de idéias de Menotti del Picchia, no início do século 20, e depois de Augusto de Campos e Mário Chamie, na década de 60, demonstra sua permanente flexibilidade de estilos literários.
"Martim Cererê", de 1928, é o mais conhecido dos seus livros. Trata-se de um longo poema indianista e nacionalista, em que o índio, o negro e o branco tomam posse e inventam um novo país.
Como jornalista, Cassiano Ricardo exerceu a função de redator nos jornais "Correio Paulista" (de 1923 a 1930) e "A Manhã", do Rio de Janeiro (de 1940 a 1944).
O poeta fundou ainda as revistas literárias "Novíssima", em 1924, "Planalto", em 1930, e "Invenção", em 1962.


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