São José dos Campos, Sábado, 27 de Novembro de 1999


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SEGURANÇA
Membros do conselho precisam da polícia após terem expulsado aluno que espancou professora
Professor chama PM para sair de escola

Claudio Capucho/Folha Imagem
Carro da professora de Jacareí Heliane da Silva Rocha Moraes riscado durante protesto de alunos na escola Coronel Carlos Porto


CRISTINA LIMA MARTINS
free-lance para a Folha Vale

A Polícia Militar de Jacareí precisou intervir anteontem à noite para garantir a saída em segurança dos membros do conselho da escola estadual Coronel Carlos Porto, que transferiram compulsoriamente o aluno R.A.M., 17, acusado de agredir a socos a professora de inglês Ívea Maria de Mesquita, 57.
Cerca de 200 estudantes do período noturno estavam na porta da escola e protestavam contra a transferência do aluno.
O carro da professora de matemática Heliane da Silva Rocha Moraes, 39, foi riscado no capô e na lateral durante o protesto.
Ela registrou boletim de ocorrência por danos.
A polícia afirmou que precisou "dissipar" a aglomeração de estudantes.
Os professores suspeitam que o próprio R.A.M. tenha dito aos colegas que deixaria a escola, uma vez que saiu da sala onde acontecia a reunião do conselho antes do término, mas continuou no colégio, acompanhado de seu pai.
Os estudantes, então, entraram na escola, foram até o portão que delimita o estacionamento e começaram a gritar.
Os conselheiros, que ainda estavam dentro da escola, optaram por chamar a PM, temendo que os adolescentes invadissem a escola e cometessem algum tipo de represália.
Funcionários, pais de alunos e professores deixaram o prédio por volta das 21h30, uma hora depois do término da reunião.

Sem punição
A punição aplicada a R.A.M. pelos conselheiros foi a mais dura entre as que estão previstas no estatuto da escola.
Duas professoras, que preferiram não se identificar, disseram que o diretor do colégio, Yoshito Yoshitake, não pretendia puni-lo.
"Ele disse que nós devíamos perdoar o rapaz, pois ele estava arrependido. É um absurdo. Ele mesmo coloca os estudantes contra os professores, porque dá a eles a certeza de que nunca serão punidos", disse uma delas.
"Esse diretor não tem pulso. Vive falando em dialogar com os alunos, mas isso não resolve o problema grave de indisciplina que temos enfrentado nas salas de aula", completou a outra.
Yoshitake, que é sociólogo, afirmou que todas as suas "crenças pedagógicas e filosóficas" nunca foram questionadas por alunos e colegas durante os seus 30 anos de magistério, três deles dedicados à direção de escolas.
"Mas cada um pode me julgar como quiser. Se até Jesus foi julgado, por que eu não posso ser também? Só que eu nunca apanhei dentro da sala de aula e nunca fui injuriado."

Atividades
Duas atividades que estavam previstas para acontecer ontem na escola foram canceladas.
O campeonato interno de voleibol chegou a ser iniciado pela manhã, mas segundo o diretor foi suspenso devido às chuvas.
Já a Festa do Sorvete, que estava prevista para a tarde, foi adiada para "acalmar os ânimos".
"Os professores acharam que seria melhor não realizar a festa e eu endossei a decisão, que foi sábia nesse momento. Mas a situação está sob controle. Na segunda-feira, as aulas voltam ao normal", disse o diretor.
R.A.M. foi oficialmente desligado da escola anteontem à noite. A Promotoria e a Vara da Infância e da Juventude de Jacareí são os órgãos responsáveis por encontrar uma vaga para o estudante em outra escola da rede.
O adolescente irá concluir em dezembro o ensino médio. Yoshitake afirmou que ele não poderá ser reprovado em decorrência da transferência compulsória.


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