São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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Peritos ensinam a verificar, pelas marcas de um acidente, quem provavelmente é o responsável pela batida

De quem é a culpa?

ANA PAULA DE OLIVEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Pelo menos uma vez na vida algum motorista já se envolveu ou presenciou uma batida de automóvel. Quando isso ocorre, começa uma discussão interminável: afinal, de quem foi a culpa?
É um tanto raro o motorista assumir a responsabilidade integralmente, mesmo estando claro que foi ele quem provocou a batida. Nessa hora, entram em cena peritos que analisam os vestígios do acidente para comprovar e identificar o causador da colisão.
Protagonista de um dos raros casos em que o motorista assume a culpa, o comerciante Mauri Querino de Moraes, 55, dirigia sua picape Ford Ranger por uma movimentada avenida de São Paulo. Foi quando, distraído, bateu na traseira de um Fiat Siena.
Moraes assumiu a culpa, mas não sozinho. Procurou responsabilizar um carro policial que tentava ultrapassá-lo. "Fiquei tão preocupado com a viatura tentando me passar que perdi a concentração e bati no veículo da frente."
"Ele foi gentil, assumiu a culpa, mas minha vida se tornou um inferno. Só daqui a um mês terei meu carro de volta", lamenta a motorista do Siena, que não quis ser identificada pela reportagem.
Já a estudante de arquitetura Carolina Maria Lopes, 23, não teve a mesma sorte quando um motociclista atravessou o cruzamento sem prestar atenção e destruiu a lateral de seu Chevrolet Corsa.
"Além de ser culpado, estar disputando racha e não usar capacete, o piloto me ameaçou, dizendo que era para eu assumir a culpa", conta. "Conclusão: estou sendo processada por ele."

Testemunhas que somem
Em casos nos quais fica uma palavra contra a outra, a melhor (e mais difícil) saída é convencer alguma pessoa que tenha presenciado a batida a testemunhar.
Segundo o delegado Manoel Camassa, do Depatri (Departamento de Investigação sobre Crimes Patrimoniais), porém, "ser testemunha hoje é sinônimo de dor de cabeça e perda de tempo".
Mas também não é um bicho-de-sete-cabeças. A testemunha não precisa comparecer imediatamente à delegacia. Basta fornecer dados pessoais -carteira de identidade e endereço- e não há necessidade de ser maior de idade. Só depois ela deverá ir ao tribunal de pequenas cau- sas para prestar depoimento.
Se pudesse voltar atrás e convencer alguns estudantes a provar que estava certa, a jornalista Patrícia Larsen, 23, não teria de arcar com o prejuízo de R$ 1.500 causado por um caminhão que raspou a lateral de seu Fiesta ao tentar ultrapassá-la pelo acostamento.
"Fui boazinha e deixei para fazer o boletim de ocorrência no dia seguinte, pois o caminhoneiro estava com pressa. Em vez de assumir a culpa, conforme o combinado, ele disse à polícia que eu estava no acostamento. Deixei para lá." Uma análise técnica teria resolvido o problema.



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