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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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CAPITÃES DA INDÚSTRIA

Para o presidente da Volks no Brasil, Paul Fleming, prestação de popular deveria ser de R$ 180; Fox custará de R$ 20 mil a R$ 30 mil

Casas Bahia é modelo de vendas para VW

ARMANDO PEREIRA FILHO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

As montadoras deveriam vender carros como as Casas Bahia comercializam eletrodomésticos -negociando dentro do orçamento do cliente e com uma prestação de até R$ 180. A receita é do presidente da VW no Brasil, o engenheiro mecânico Paul Fleming, que, apesar do posto, tem só um carro -um Fusca última edição.
Ele gosta mesmo é de motos -tem três Ducati, uma delas como decoração de seu apartamento em Londres. O britânico Fleming é o quarto entrevistado de uma série de cinco dirigentes das principais montadoras no país.
 
Folha - Qual a importância do Brasil para a indústria?
Paul Fleming -
A localização do Brasil é de alta importância. Logisticamente, é mais fácil transportar carros para toda a região. Em segundo lugar, economicamente é promissor.

Folha - Qual a expectativa da Volkswagen em relação à economia do país?
Fleming -
Acreditamos que não pode ficar pior -mas temos de ter cuidado com essa afirmação, porque pode ficar pior. Achamos que o governo está indo na direção certa. A economia deve melhorar em seis, oito meses.

Folha - Segundo pesquisas de consultorias, o Gol Turbo 1.0 16V aumentou 8,83% entre julho e agosto, apesar da redução de três pontos percentuais do IPI. As montadoras e as concessionárias estão descumprindo o acordo de repassar a redução para o consumidor?
Fleming -
Nós produzimos muitos Gol Turbo. Tínhamos um grande estoque. Quando o mercado encolhe, não vendemos o Turbo. Em junho e julho, demos um forte incentivo para reduzir o preço, depois voltamos ao preço original. Mas isso foi só com o Gol Turbo. Oitenta por cento das vendas são de outros modelos.

Folha - Mesmo assim, as pesquisas apontam que houve só uma redução de 0,43% nos preços, não só da VW, mas de todas as marcas.
Fleming -
Não sei de onde esses números vêm. A VW repassou 3% de desconto.

Folha - A VW foi líder no Brasil por muitos anos. Ela era realmente a melhor ou se manteve nesse posto por falta de mais concorrência?
Fleming -
A VW será a líder do mercado em dezembro, no fim deste ano. Temos Gol Geração 3, Polo e Golf. Entre R$ 15 mil a R$ 40 mil, há um intervalo muito interessante, de R$ 20 mil a R$ 30 mil. Hoje, não temos nada entre o Gol e o Polo. Infelizmente, o único carro da VW nessa faixa é o Gol Power, que é um grande carro, mas, se você quer um carro com mais estilo, com design moderno, uma forma diferente, você só tem o Gol Power, que tem um design para um cliente conservador.
Nossa expectativa é que o Fox [a ser lançado no próximo mês] ganhe mercado, tirando pequena parcela de venda do Gol e pequena parcela do Polo. Recuperar a liderança tem a ver com oferecer carros para todos os segmentos.

Folha - A VW tinha a imagem de ser lenta em suas decisões. A comodidade da liderança pode ter causado essa lentidão?
Fleming -
A cada dia, nós nos tornamos mais ágeis. A VW no Brasil é uma grande companhia, um grande navio. E um superpetroleiro precisa de um monte de trabalho para ser manobrado. Estou aqui há 11 meses e tenho visto surpreendentes melhoras.

Folha - Que produtos a VW deve apresentar em 2004?
Fleming -
Os principais produtos serão baseados no projeto 249 [Fox], variações sobre ele. Nós antecipamos seu lançamento em quatro meses e meio. Era para ocorrer em fevereiro de 2004. Onze meses atrás [quando ele assumiu a presidência], eu disse: "Não podemos esperar por esse carro". Então, decidimos antecipar tudo.

Folha - E o modelo quatro portas vem em fevereiro?
Fleming -
Não, deve chegar em março.

Folha - Há um estudo de cenário em que o Fox canibalize o Gol?
Fleming -
Se você tem R$ 22 mil no seu bolso, as chances são de que você não compre um Gol. As chances são de que você compre um [Ford] Fiesta ou um [Peugeot] 206. Não deve haver canibalização. Estamos entrando num segmento de mercado jovem.

Folha - O senhor gosta de carros antigos...
Fleming -
Eu comprei um Fusca da última edição [feito no encerramento mundial da produção do carro, em julho, no México].

Folha - Que carro da VW o sr. ressuscitaria?
Fleming -
Meu VW favorito? É fácil: SP2.

Folha - Mas ele só foi feito no Brasil. Onde o sr. o viu?
Fleming -
Eu vi um na Alemanha, quatro anos atrás. Estou pensando seriamente em comprar um. O problema é a documentação, se eu sair do país. Eu tenho três motos e um único carro. E é o Fusca última edição.

Folha - Por que preço seria viável vender um carro realmente popular no Brasil?
Fleming -
É muito complexo. Não é só o preço do carro. Há o imposto, as prestações. Em vez do preço do carro, acho que, no Brasil, um carro popular seria o que pudesse ser comprado com uma prestação de R$ 180. É como ir às Casas Bahia. Esses caras entendem o poder de compra. Eles buscam qualquer coisa para negociar dentro de seu orçamento.



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