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CAPITÃES DA INDÚSTRIA
Para o presidente da Volks no Brasil, Paul Fleming, prestação de popular deveria ser de R$ 180; Fox custará de R$ 20 mil a R$ 30 mil
Casas Bahia é modelo de vendas para VW
ARMANDO PEREIRA FILHO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
As montadoras deveriam vender carros como as Casas Bahia
comercializam eletrodomésticos
-negociando dentro do orçamento do cliente e com uma prestação de até R$ 180. A receita é do
presidente da VW no Brasil, o engenheiro mecânico Paul Fleming,
que, apesar do posto, tem só um
carro -um Fusca última edição.
Ele gosta mesmo é de motos
-tem três Ducati, uma delas como decoração de seu apartamento em Londres. O britânico Fleming é o quarto entrevistado de
uma série de cinco dirigentes das
principais montadoras no país.
Folha - Qual a importância do
Brasil para a indústria?
Paul Fleming - A localização do
Brasil é de alta importância. Logisticamente, é mais fácil transportar carros para toda a região.
Em segundo lugar, economicamente é promissor.
Folha - Qual a expectativa da
Volkswagen em relação à economia do país?
Fleming - Acreditamos que não
pode ficar pior -mas temos de
ter cuidado com essa afirmação,
porque pode ficar pior. Achamos
que o governo está indo na direção certa. A economia deve melhorar em seis, oito meses.
Folha - Segundo pesquisas de
consultorias, o Gol Turbo 1.0 16V
aumentou 8,83% entre julho e
agosto, apesar da redução de três
pontos percentuais do IPI. As montadoras e as concessionárias estão
descumprindo o acordo de repassar a redução para o consumidor?
Fleming - Nós produzimos muitos Gol Turbo. Tínhamos um
grande estoque. Quando o mercado encolhe, não vendemos o Turbo. Em junho e julho, demos um
forte incentivo para reduzir o preço, depois voltamos ao preço original. Mas isso foi só com o Gol
Turbo. Oitenta por cento das vendas são de outros modelos.
Folha - Mesmo assim, as pesquisas apontam que houve só uma redução de 0,43% nos preços, não só
da VW, mas de todas as marcas.
Fleming - Não sei de onde esses
números vêm. A VW repassou
3% de desconto.
Folha - A VW foi líder no Brasil por
muitos anos. Ela era realmente a
melhor ou se manteve nesse posto
por falta de mais concorrência?
Fleming - A VW será a líder do
mercado em dezembro, no fim
deste ano. Temos Gol Geração 3,
Polo e Golf. Entre R$ 15 mil a
R$ 40 mil, há um intervalo muito
interessante, de R$ 20 mil a R$ 30
mil. Hoje, não temos nada entre o
Gol e o Polo. Infelizmente, o único
carro da VW nessa faixa é o Gol
Power, que é um grande carro,
mas, se você quer um carro com
mais estilo, com design moderno,
uma forma diferente, você só tem
o Gol Power, que tem um design
para um cliente conservador.
Nossa expectativa é que o Fox [a
ser lançado no próximo mês] ganhe mercado, tirando pequena
parcela de venda do Gol e pequena parcela do Polo. Recuperar a liderança tem a ver com oferecer
carros para todos os segmentos.
Folha - A VW tinha a imagem de
ser lenta em suas decisões. A comodidade da liderança pode ter causado essa lentidão?
Fleming - A cada dia, nós nos
tornamos mais ágeis. A VW no
Brasil é uma grande companhia,
um grande navio. E um superpetroleiro precisa de um monte de
trabalho para ser manobrado. Estou aqui há 11 meses e tenho visto
surpreendentes melhoras.
Folha - Que produtos a VW deve
apresentar em 2004?
Fleming - Os principais produtos serão baseados no projeto 249
[Fox], variações sobre ele. Nós antecipamos seu lançamento em
quatro meses e meio. Era para
ocorrer em fevereiro de 2004. Onze meses atrás [quando ele assumiu a presidência], eu disse: "Não
podemos esperar por esse carro".
Então, decidimos antecipar tudo.
Folha - E o modelo quatro portas
vem em fevereiro?
Fleming - Não, deve chegar em
março.
Folha - Há um estudo de cenário
em que o Fox canibalize o Gol?
Fleming - Se você tem R$ 22 mil
no seu bolso, as chances são de
que você não compre um Gol. As
chances são de que você compre
um [Ford] Fiesta ou um [Peugeot] 206. Não deve haver canibalização. Estamos entrando num
segmento de mercado jovem.
Folha - O senhor gosta de carros
antigos...
Fleming - Eu comprei um Fusca
da última edição [feito no encerramento mundial da produção do
carro, em julho, no México].
Folha - Que carro da VW o sr. ressuscitaria?
Fleming - Meu VW favorito? É
fácil: SP2.
Folha - Mas ele só foi feito no Brasil. Onde o sr. o viu?
Fleming - Eu vi um na Alemanha, quatro anos atrás. Estou pensando seriamente em comprar
um. O problema é a documentação, se eu sair do país. Eu tenho
três motos e um único carro. E é o
Fusca última edição.
Folha - Por que preço seria viável
vender um carro realmente popular no Brasil?
Fleming - É muito complexo.
Não é só o preço do carro. Há o
imposto, as prestações. Em vez do
preço do carro, acho que, no Brasil, um carro popular seria o que
pudesse ser comprado com uma
prestação de R$ 180. É como ir às
Casas Bahia. Esses caras entendem o poder de compra. Eles buscam qualquer coisa para negociar
dentro de seu orçamento.
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