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CAPITÃES DA INDÚSTRIA
JÉRÔME STOLL
Erramos ao lançar primeiro o Mégane com motor 1.6
Para reforçar imagem de luxo, sedã terá opção mais equipada em 2 meses
De seu escritório na Vila Olímpia (zona oeste de São
Paulo), o presidente da Renault do Brasil, Jérôme
Stoll, vê o movimento dos aviões que partem de Congonhas e voltam para lá. É um balanço inspirador para
chefiar uma montadora que jamais dera lucro. Mas,
em 2007, esse tunisiano tirou a empresa do vermelho.
Transferiu a produção do Clio para uma ociosa fábrica
na Argentina para abrir espaço na também ociosa fábrica no Paraná para fazer o Logan. (JOSÉ AUGUSTO AMORIM)
Não foi um processo fácil.
Em 2006, quando assumiu o
posto, Stoll, 54, anunciou o plano Contrato Mercosul 2009: o
Mégane Sedan, a Mégane
Grand Tour, o Logan, o Sandero e mais dois carros a serem
feitos na região teriam a missão
de dobrar as vendas da francesa, que fechou 2007 com 3,14%
de participação de mercado.
Foi preciso trabalhar até com
recursos humanos para estimular os funcionários. A tática
parece ter dado certo. Em setembro, o mundo se surpreendeu com o Sandero, que não era
um Logan "cortado". O segredo
foi tão bem guardado que nenhuma foto sua vazou.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista, em que Stoll
defende as duplas Clio-Sandero e Scénic-Grand Scénic.
FOLHA - Qual a importância do
Brasil para o grupo Renault?
JÉRÔME STOLL - O volume das
vendas é um dos maiores do
mundo, e seu crescimento é
também um dos maiores. A
nossa participação [de mercado] é baixa porque ainda não
desenvolvemos completamente as linhas de produtos que são
focadas no nosso mercado. O
Brasil é o nono mercado da Renault, mas pode crescer mais.
FOLHA - A criação do Sandero dá
mais importância para o país?
STOLL - A decisão de desenvolver esse carro foi feita com a
perspectiva das vendas no Brasil. Todos os engenheiros pensaram no Brasil, nas vendas do
Brasil, no consumidor brasileiro. Ele também é bonito, então
outras regiões vão vendê-lo.
FOLHA - Em 2008 haverá um produto criado no Brasil?
STOLL - O plano Contrato 2009
previu seis novos produtos.
Quatro já estão no mercado;
outros devem chegar em 2010.
FOLHA - Como o Brasil está cumprindo sua parte no Contrato 2009?
STOLL - O Contrato 2009 teve
três objetivos: dobrar o volume
das vendas da Renault do Brasil
até 2009, ficar entre os três primeiros em qualidade de produtos e de serviços e ter lucro. A
Renault do Brasil teve prejuízo
desde o início da atividade.
FOLHA - A fábrica ainda é ociosa?
STOLL - No início do plano, o nível de ociosidade era de 65%.
Agora é de 40% a 45%.
FOLHA - Ainda é uma ociosidade
bem grande.
STOLL - É grande, claro. Você
fala sobre ociosidade, você fala
sobre potencial de crescimento. É um potencial importante
para crescer, pois, com os investimentos que o grupo pode
fazer no mundo, é uma batalha
atrair a decisão para o nosso
mercado. A fábrica já existe.
FOLHA - Com tamanha ociosidade,
por que transferir a produção do Clio
para a Argentina?
STOLL - Concentrar a fabricação de um modelo numa fábrica é sempre melhor para a rentabilidade. Decidimos focar toda a produção do Clio na Argentina e a da plataforma do
Logan no Brasil. A segunda razão é que a Argentina é um país
mais e mais competitivo, com o
peso desvalorizado.
FOLHA - O que a Argentina produz?
STOLL - O Clio, a Kangoo e o
Mégane anterior, que realmente tem um grande sucesso no
mercado argentino. Pode ser
uma nova estratégia para a Renault, uma montadora um pouco nova na região. Outras, como
a Fiat e a Volkswagen, vendem
durante um período longo o
mesmo carro com algumas modificações. Se o cliente tem interesse porque o preço é baixo,
é interessante para a montadora continuar com a produção.
FOLHA - O Clio e o Logan vão conviver enquanto o mercado aceitar?
STOLL - Fazemos negócios. Se
temos lucros com ele, seria um
crime parar a produção.
FOLHA - Gostaria que o sr. comentasse os três pontos do Contrato
2009. A Renault já deu lucro?
STOLL - Sim. Em 2007, atingimos o "break even point" [equilíbrio entre receitas e despesas]. Tivemos lucro, e não pouco prejuízo [risos].
FOLHA - Em cinco meses, o Logan
teve dois recalls. Como a Renault vai
atingir a meta de qualidade?
STOLL - O recall é uma política
do grupo. Desde o momento
em que conhecemos [o problema], decidimos fazer um recall.
É uma proteção para o cliente
e, no longo prazo, uma política
de confiança. O consumidor sabe que não precisa se preocupar: "Eles farão um recall se um
problema de qualidade existir".
FOLHA - Em relação ao volume, o
problema é falta de produto, de concessionária, de interesse do consumidor pela marca Renault?
STOLL - A notoriedade de marca é ainda um pouco baixa. A
imagem é boa, mas as pessoas
não conhecem [a marca]. Os
brasileiros conhecem a Renault, mas não sabem que ela
fabrica carro no Brasil. Com a
introdução de produtos como o
Logan e o Sandero, a familiaridade cresce dia a dia.
O volume de vendas do Logan já é maior do que nossa expectativa. Com um pouco mais
de tempo e com os produtos
que estamos lançando, a maneira de considerar a Renault
na lista de compras cresce.
FOLHA - O Logan poderia vender
mais do que vende hoje?
STOLL - Claro. Uma expressão
que Carlos Ghosn [presidente
mundial da Renault] já usou é
que um brasileiro a cada dois
não conhece a Renault. Se trabalhamos com a familiaridade
da marca e a fazemos parte da
lista de compras, a participação
cresce. Quando o consumidor
visita nossa loja e faz um test-drive, ele compra.
FOLHA - Por que o Mégane não
conseguiu bater os concorrentes?
STOLL - Cometemos um erro ao
lançar esse produto só com motor 1.6. Devíamos ter lançado o
2.0 antes. Agora trabalhamos
para consertar esse erro. Vamos lançar uma versão mais alta, em dois meses, para fortalecer a imagem do Mégane. São
Paulo é um mercado para o 2.0
com caixa automática.
FOLHA - A nova versão vai trazer
quais equipamento a mais?
STOLL - Mais. Mais [risos].
FOLHA - Quanto vai custar?
STOLL - Só é mais luxo.
FOLHA - Se a idéia é reforçar o luxo,
por que a Renault lançou a Expression, uma versão mais simples?
STOLL - O mercado brasileiro é
diferente no Norte, em São
Paulo, no Sul. Essa estratégia
funciona bem no Sul, mas não
funciona em São Paulo. Devemos trabalhar sobre o mercado
de São Paulo, que é muito importante para esse segmento.
FOLHA - A Renault vai continuar
vendo as vendas da Scénic despencarem sem reagir?
STOLL - Ainda temos consumidores para comprar essa Scénic, e ela vai continuar. Para
quem quer novos carros, vamos
oferecer a Grand Scénic.
FOLHA - Qual o objetivo de trazer o
Mégane Cabriolet, um carro que
venderá tão pouco?
STOLL - Sonho. O objetivo é fortalecer a imagem da marca,
atrair o consumidor à loja,
mostrar que a Renault pode fabricar todos os tipos de veículo,
incluindo os que são de sonho.
FOLHA - Haverá um novo produto
da família do Logan em 2008?
STOLL - Em 2008, pode ser; em
2009, não; em 2010, pode ser.
FOLHA - Isso inclui a picape?
STOLL - Pode ser picape, pode
ser outro sedã. Trabalhamos
com carros que não existem e
que podem ser criados aqui.
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