São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2011

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ODEIO MEU CARRO

Clientes revoltados recorrem a protestos inusitados para confrontar fabricantes; para especialistas, estresse e frustração alteram comportamento

Eduardo Knapp/Folhapress
Eliud Anhuci, 66, simula marretar seu veículo

RICARDO RIBEIRO
DE SÃO PAULO

O empresário Francisco Queiroz, 30, colou um adesivo com a frase "Sportage nunca mais" no carro e estacionou em frente à concessionária.
"Sou uma pessoa muito pacífica, mas chega uma hora em que esgota a paciência e não dá mais", desabafa. Segundo Queiroz, o carro apresentou diferentes defeitos desde a compra, em 2008 -começando pelo motor. "A raiva não é pelos problemas. É que não tomam nenhuma providência."
O veículo está na Kia desde março, mas o empresário pede outro na Justiça, além de uma indenização. A Kia processa o cliente por danos à imagem da marca.
Queiroz não está sozinho. Histórias como a dele se repetem com cada vez mais frequência, e raramente há consequências maiores que processos judiciais. Alguns fatores, porém, podem desencadear reações perigosas.
"Há muita expectativa na compra de um carro, o que diminui a tolerância da pessoa a uma frustração", explica Antonio Carlos Amador Pereira, professor do curso de psicologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).

DIA DE FÚRIA
Para o psicólogo, o tratamento inadequado dispensado ao público por parte de alguns fabricantes agrava as reações. "Somado ao constante estado de estresse a que o indivíduo é submetido, sua tolerância vai a zero, e ele vive seu 'Um Dia de Fúria'."
Na China, um proprietário lembrou o filme de 1993, estrelado por Michael Douglas, ao destruir sua Lamborghini a marteladas em frente à autorizada que não resolveu um problema do carro.
No Brasil, um Chery Face flagrado com o adesivo "Não tem peças. Nem previsão de chegar" é o mais recente hit do gênero nas redes sociais.
"O intuito é externar a insatisfação e desacreditar o prestador de serviço. Algumas pessoas recorrem ao bom humor, mas a frustração pode gerar um comportamento agressivo", alerta Pereira.
O policial rodoviário André Luís Correia, 34, preferiu o bom humor e criou o www.meufocusquebra.com, com direito a vídeos do proprietário apresentando os defeitos do carro comprado em 2007.
"É o senso de justiça que existe em mim que me motiva", afirma Correia. A Ford propôs acordo, mas ele foi à Justiça por outro carro.
Já Daniely Andrade Argenton, proprietária de um Mégane, e a Renault entraram em acordo no início do ano.Foram quatro anos de briga e o polêmico www.meucarrofalha.com.br, que virou site de defesa do consumidor.
Eliud Anhuci, 66, optou por escrever para a seção Cartas de Veículos. A Renault respondeu, mas a insatisfação permanece. "Nunca mais comprarei outro Sandero."
Além de render processos, os protestos podem prejudicar a revenda do carro.



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