São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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CAPITÃES DA INDÚSTRIA - CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA ANDRADE

Tucson será nacional em 2008; 3º carro só vem em 2009

À espera de indenização da Renault, presidente da Hyundai diz que tem contrato melhor que o da Mitsubishi

PATRÍCIA TRUDES DA VEIGA
EDITORA DE SUPLEMENTOS

JOSÉ AUGUSTO AMORIM
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS

Carlos Alberto de Oliveira Andrade, 63, não se agüenta de felicidade. Neste ano, inaugurou, com seu próprio capital, a fábrica da Hyundai no Brasil, além de ter visto as vendas de um único produto -o utilitário esportivo Tucson- aumentarem 258%.

O empresário paraibano, que lidera o grupo Caoa (acrônimo de seu nome observado inicialmente pela Renault, de quem foi sócio), é uma personalidade polêmica no setor. Sonhando em desenvolver um carro brasileiro, diz ser beneficiado por um contrato "fora dos padrões" com a Hyundai, que lhe cobra US$ 150 de royalties por carro.
Maior vendedor da Ford na América Latina, briga até hoje na Justiça com a francesa. Mesma Justiça que já o condenou a mais de cinco anos de prisão por crime contra o sistema financeiro -ele ainda recorre. Andrade é o primeiro a ser entrevistado na série que a Folha passa a publicar hoje com os presidentes de montadoras que produzem no Brasil.

 

FOLHA - Por que o sr. trocou a carreira de médico pela de empresário?
CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA ANDRADE -
Eu era médico as 24 horas do dia, por isso não tinha tempo para gastar. O que eu ganhava amealhava. Em 1979, comprei um Landau e, como não o entregaram, pedi o dinheiro de volta. A condição do dono da concessionária era muito ruim, mas ele ia vendê-la e me pagaria. Esperei, e nada. Comprei a concessionária por 5 milhões de cruzeiros [o equivalente a R$ 1,4 milhão]. A concessionária cresceu demais, e a Ford achou aquilo magnífico. A Ford tinha problema com uma concessionária no Recife e perguntou se eu não queria ir para lá. Fui às 8h e às 14h a tinha comprado.

FOLHA - Quanto tempo demorou entre as duas compras?
ANDRADE -
Cinco meses. A primeira eu comprei em julho de 79, e a segunda, em dezembro.

FOLHA - Como nasceu o grupo?
ANDRADE -
O presidente da Ford me chamou para vir a São Paulo, e, do mesmo jeito, comprei a concessionária. A do Recife, que vendia 60 carros, passou para 250. A de São Paulo foi de 80 para 300. Comprei outra. Cresci com a Ford e fui chamado para a Espanha. Comprei concessionárias em Madri. Isso foi em 1991, época em que a Renault me procurou para ser seu importador. Eu já era considerado o maior distribuidor Ford. Em 1992, assinei o contrato com a Renault. Eu criei a empresa CA de Oliveira Andrade, mas o pessoal da Renault abreviou para Caoa.

FOLHA - O sr. ficou quanto tempo com a Renault?
ANDRADE -
Fiquei até 1996 como importador. Fiquei como concessionário, depois me tornei sócio da Renault. Em 1998, nós nos separamos, foi quando eu peguei a Subaru.

FOLHA - A separação foi litigiosa.
ANDRADE -
A Renault quebrou o contrato, alegou um monte de bobagem. O problema é que a Renault tem uma grande dor-de-cotovelo. Em 1995, vendemos um grande número de veículos, coisa que depois ela não conseguiu vender. No ano seguinte, encerramos a relação comercial por decisão dela. O problema é que o pessoal me procurava como a pessoa da Renault no país, o que a incomodava. Eu continuava como concessionário Renault. Isso criou um clima de insatisfação.

FOLHA - Já recebeu a indenização?
ANDRADE -
Está rolando (risos).

FOLHA - Como entrou a Subaru?
ANDRADE -
A Subaru pertencia ao grupo Vicunha, eu a adquiri.

FOLHA - Por que o grupo Caoa focou na Hyundai, e não na Subaru?
ANDRADE -
Em 1999, eu tinha um estoque muito alto da Subaru, e houve aquele problema do dólar. Passei três anos vendendo esse estoque. Claro que isso afetou a marca. Vendia uma média de 150 carros por mês, e as vendas caíram para 40. Em 2002, lancei a linha nova da Subaru, mas houve novamente o problema do dólar, na época da eleição do Lula. Além disso, ela sempre primou pela qualidade e nunca deu importância ao design. Em 2008, a Subaru lançará cinco modelos.

FOLHA - Se a Subaru sempre primou pela qualidade, a Hyundai, até pouco tempo atrás, era mais quantidade do que qualidade.
ANDRADE -
Em 1980, a Hyundai entrou nos EUA, vendeu uma grande quantidade de carros superequipados, mas com uma qualidade muito ruim. Esses carros deram 1.001 problemas, e ela se retirou com uma imagem abalada. Voltou nos anos 90 dando dez anos de garantia, mas com carros pequenos.
Em 2001, lançou o Santa Fe, seu primeiro carro de luxo. Foi aí que passou a ser carro de classe média alta. Em 2005, trouxe para o Brasil 150 Tucson com a perspectiva de vender 50 por mês, mas vendi tudo no primeiro mês. No fim de 2005, já vendia 200 Tucson por mês.
Em 2006, as vendas chegaram a 600 carros. Fechei 2007 com 3.100 carros [por mês]. Foram 2.000 Tucson em novembro.

FOLHA - E a fábrica de Anápolis?
ANDRADE -
Em setembro, outubro do próximo ano, lançamos o Tucson nacional. Investi cerca de R$ 300 milhões.

FOLHA - Houve pressa para inaugurar a fábrica até abril?
ANDRADE -
A gente tinha que inaugurar de qualquer jeito para não perder os incentivos.

FOLHA - Serão HR, Tucson e...
ANDRADE -
Tem mais um carro em 2009. Vou à Coréia discutir.

FOLHA - O Elantra tem chance?
ANDRADE -
É uma possibilidade. O problema é que não tem Elantra para vender. Então vou lançar em janeiro o Azera, um carro de alto valor agregado.

FOLHA - O sr. disse que recusou um concessionário por ele ter problemas na Justiça. Mas o sr. foi condenado por crime contra o sistema financeiro nacional.
ANDRADE -
O meu consórcio, como todos os de 1989 a 1992, era regido pela Receita Federal. Depois, a partir de 1993, passaram a ser fiscalizados pelo Banco Central. O que faziam? Pegavam o dinheiro que estava no consórcio e aplicavam. Mas não há crime, não há nada.

FOLHA - O sr. não tem mais essa empresa de consórcio?
ANDRADE -
Tenho, e funciona com licença do Banco Central.

FOLHA - Anunciou-se que o faturamento do grupo Caoa atingirá US$ 4 bilhões neste ano. É verdade?
ANDRADE -
Não, US$ 4 bilhões, não, R$ 4 bilhões! Nosso faturamento em 2006 foi de R$ 1 bilhão, R$ 1,5 bilhão. Neste ano é que realmente cresceu muito.

FOLHA - Valeu a pena trocar a carreira de médico pela de empresário?
ANDRADE -
Estou satisfeito. Não conheço ninguém que tenha uma fábrica de automóveis. Eu tenho. Os royalties que eu mando para a Hyundai são insignificantes. E isso não foi graças a mim, foi graças à negociação que o Inpi [Instituto Nacional de Propriedade Intelectual], para aprovar o meu contrato, fez com a Hyundai. Eles mudaram 30 itens do contrato.

FOLHA - Royalties insignificantes?
ANDRADE -
Por carro, US$ 150, uma quantia besta em troca da tecnologia que me dão.

FOLHA - Seu contrato com a Hyundai é parecido com o que Eduardo Souza Ramos tem com a Mitsubishi?
ANDRADE -
Completamente diferente. Eu fabrico aqui os carros que a Coréia está fabricando. E o Eduardo só fabrica carro ultrapassado. O TR4 e o Pajero Sport saíram de linha [no Japão] há muitos anos.


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