São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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peças & acessórios

Adesivo abre olhos de criminosos para rotina de motoristas

Identificação de clubes e faculdades denuncia condição financeira e vai na contramão da segurança

WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Aos 9 anos, um pretenso "detetive" mantém um site onde informa como "investigou" uma pessoa pelos adesivos do carro. Mas a brincadeira muda de parâmetro na vida real.
Segundo a Polícia Militar de São Paulo, adesivos que identifiquem a situação financeira ou os locais freqüentados pelo motorista podem torná-lo alvo de crimes, como seqüestros.
"Quanto menos informações sobre o motorista houver no carro, melhor", aponta o capitão da PM Marcel Lacerda Soffner. "O adesivo pode facilitar o crime, pois dá indícios e vetores para uma ação criminosa."
Uma rápida volta pelas ruas paulistanas permite observar que os adesivos mais comuns são os de academias de musculação e de artes marciais, de universidades e de congregações filosóficas ou religiosas -como igrejas evangélicas.
Um dos brindes que a academia de jiu-jítsu Fight Company dá na matrícula é um adesivo. Segundo o atendente Douglas Oliveira, a maioria dos 450 alunos o estampa na lataria.
"Alguns querem status, mostrar que lutam jiu-jítsu, e outros querem promover o nome da academia e da equipe em que lutam", observa.
Na Macaco Gold Team, os adesivos saem por R$ 5 cada um, numa média de dez por dia. "Sejamos realistas: a mensagem que se quer passar é "não mexa comigo, luto jiu-jítsu'", diz a atendente Bianca Silva.
Mas o uso também pode ser obrigatório. Alguns condomínios exigem que os moradores tenham um adesivo para facilitar o reconhecimento do carro.
O administrador Oswaldo Leal tem, em seu carro, o adesivo do Rio 2, onde trabalha, e o do condomínio Barra Sul, onde mora, mas não acha que haja riscos, já que são apenas alusivos, com paisagens.
"Mas poderia haver uma forma mais segura de identificação, já que qualquer um pode conseguir um adesivo através de um condômino mal-intencionado e entrar no prédio."
Segundo o professor de direito do trânsito do Centro Universitário Curitiba Marcelo Araújo, o adesivo que permite a entrada no condomínio é um indicativo expresso e que fica exposto o tempo inteiro.
"É quase como dar o endereço ao bandido. Se o sujeito tem um adesivo de um condomínio de luxo, de um haras, pobre ele não é. Quem pode fazer direito numa faculdade federal, quem pode pagar uma academia cara? O adesivo pode suscitar admiração e inveja e também ser um atrativo para o criminoso."
E Araújo crava: "Quem cola um adesivo desses vai na contramão da segurança pessoal".

Reconhecimento
O aposentado Antônio Carlos Pinto de Arruda carrega o adesivo da loja maçônica da qual faz parte. "É um símbolo importante, que permite aos irmãos se acolherem melhor."
Arruda diz não ter medo de usar adesivos porque mora em Bauru (343 km a noroeste de São Paulo). "De time, por exemplo, nunca colocaria. Se ponho adesivo do Corinthians no carro, no outro dia ele aparece riscado", brinca.
O corretor de imóveis Leandro Mello não crê que o adesivo da Pró-Vida -que promove o "aprimoramento e desenvolvimento mental"- ponha sua segurança em risco. "Não tem endereço, só um símbolo e uma frase. Ele serve para que os membros se identifiquem."


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