UOL


São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAPITÃES DA INDÚSTRIA

Antonio Maciel Neto, presidente da montadora, afirma que ociosidade do setor impede "grandes investimentos" em novos produtos

Ford só vai lançar bicombustível em 2004

FREE-LANCE PARA A FOLHA

A Ford apresentou o primeiro protótipo de carro bicombustível -que funciona com gasolina, álcool ou qualquer mistura dos dois-, mas perdeu a corrida dos lançamentos no mercado para General Motors e Volkswagen.
O presidente da montadora, o paranaense Antonio Maciel Neto, 45, alega que a empresa quer reduzir o consumo e prolongar a durabilidade e só vai ter seu bicombustível no ano que vem. "Vai ser o melhor do mercado."
Maciel Neto é o segundo entrevistado da série que Veículos está publicando com os dirigentes das cinco principais fábricas de automóveis no país.
(JOSÉ AUGUSTO AMORIM)
 

Folha - Por que o Brasil é tão importante para a indústria automobilística?
Antonio Maciel Neto -
O tamanho do mercado é, se você considerar por país, um dos dez maiores do mundo. A segunda coisa é o potencial de exportação.

Folha - A Ford anunciou que vai lançar 65 novos produtos nos próximos cinco anos. O Brasil entra nesse pacote?
Maciel Neto -
Esse pacote é fundamentalmente para EUA e Europa. São mercados com um nível dez vezes maior que o do Brasil e exigem esses lançamentos.
Nós vamos continuar lançando os produtos que já estavam mais ou menos encaminhados. Agora, com esse nível de ociosidade e com esse tamanho de indústria, todos os novos grandes investimentos estão parados.

Folha - A Ford tem intenção de ser líder de mercado ou o quarto lugar nas vendas está bom?
Maciel Neto -
A Ford vem crescendo bastante. Nossa pior participação foi em agosto de 2001, quando tivemos 6,6% do mercado. Em junho [deste ano], tivemos 12,2%, quase 100% de aumento. Temos produtos muito quentes, como o EcoSport, o novo Fiesta, o Ka e o Focus.
Nosso crescimento é gradual. Não vemos a Ford, com a linha de produtos atual, disputando a liderança pelo menos nos próximos três, quatro anos.

Folha - Por que a Ford decidiu lançar um utilitário [EcoSport] e não o Fusion?
Maciel Neto -
Nós pesquisamos muito o mercado, e o brasileiro queria alguma coisa um pouco mais espaçosa que um "popular", que desse para sair no fim de semana com o mesmo carro que vai trabalhar, que fosse acessível.
Chegamos à conclusão de que o que o brasileiro estava querendo não era uma minivan, era um SUV [utilitário esportivo].

Folha - Os carros 1.0 vão continuar sendo o principais responsáveis pelas vendas das montadoras por muito tempo?
Maciel Neto -
Eu acho que sim. O Brasil precisa de carros para fazer volume, de carros acessíveis, e os mais acessíveis são 1.0. A tendência é estabilizar em 50%, 55% [do mercado].

Folha - E os automóveis bicombustíveis?
Maciel Neto -
São importantíssimos. Nós fomos os primeiros a fazer o protótipo, estamos testando vários modelos. Todo mundo me pergunta por que lançamos primeiro e depois ficamos para trás. Nós vamos lançar o melhor do flex fuel. Vai ser no ano que vem e vai ser o melhor do mercado sob pelo menos dois aspectos: consumo e durabilidade.
Motor aqui na Ford é um assunto muito importante. Nós não vamos pegar um propulsor a álcool e botar um sensor e lançar porque não funciona assim. Aqui no Brasil, a gasolina já é um "gasool", com álcool anidro. Então, você tem gasolina, álcool anidro e álcool hidratado.
Vamos considerar muito o consumo de combustível e também garantir a durabilidade.

Folha - Ter o produto e demorar tanto para lançar não acaba arranhando a imagem da Ford?
Maciel Neto -
Acho que não. A imagem da Ford está sendo construída. Nessas pesquisas, pela primeira vez a empresa aparece em primeiro lugar no que se refere à próxima compra. Aparecemos em primeiro lugar em design, em acabamento e em propaganda.

Folha - Anunciar um recall hoje em dia é bom, traz transparência?
Maciel Neto -
Às vezes, as pessoas falam: "Agora tem tanto recall. A qualidade do veículo piorou?". A qualidade melhorou 50 vezes. É falsa essa percepção de que a qualidade piorou. Vários motivos têm levado a uma frequência maior de recalls.
O primeiro deles é a velocidade de lançamento de produtos. Antes, era lançado um produto, e ele ficava dez anos no mercado, não havia mais recall.
Agora os produtos são lançados a todo momento, com uma frequência violenta. A vida do produto é muito curta, e a variedade, tremenda.
A segunda coisa são as inovações tecnológicas. Por mais que se teste por 500 mil, 600 mil quilômetros, a velocidade da inclusão de novos materiais tem dado alguns pequenos problemas. E o terceiro ponto é a evolução do Código de Defesa do Consumidor.


Texto Anterior: Internet: Celta 1.4 já está à venda no site da Chevrolet
Próximo Texto: Paciência
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.