São Paulo, sábado, 02 de maio de 2009

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PARECE, MAS NÃO É

JUNK FOOD PARA TODOS

Vegetarianos radicais andam enfiando o pé na jaca com mortadela de glúten, bacon de soja e requeijão de tofu

PEDRO ANDRADA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pizza, hambúrguer e mortadela já são apreciados por não carnívoros. Sem ingredientes de origem animal, versões desses alimentos circulam em restaurantes, supermercados e lojas especializadas.
O restaurante Vegethus, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, organiza mensalmente uma noite da pizza para veganos -militantes que excluem todo produto de origem animal não só da dieta, mas de roupas e objetos pessoais. (Já os vegetarianos podem ou não consumir laticínios e ovos.)
Na noite da pizza vegana, uma das estrelas do cardápio é a redonda com recheio de "glutadela" (mortadela de glúten).
Invenções para agradar a esse público começam a pipocar agora no mercado brasileiro. Se lasanhas vegetais e hambúrgueres de soja já são comuns, ninguém ainda importou o bacon de soja, um dos hits da empresa americana Ligth Life.
O restaurante também faz, todo mês, o festival "junk food" vegano. Nessas noites, são servidos "cachorros-quentes" (salsicha de soja, claro), "pãozinho sem queijo" (imitação do pão de queijo sem o laticínio) e "tofupiry" (requeijão de tofu).
Por falar em comida "trash", a empresa gaúcha Olvebra apostou em leite condensado, doce de leite e mistura para bolo -tudo à base de soja.
A distribuidora Sim Alimentos vem importando novidades no setor vegano. Entre elas está a linha de bebidas de arroz com suco de frutas, para o público infantil, e bebidas à base de painço-um cereal utilizado na alimentação de animais.
O nutricionista George Guimarães, 35, aprova esse movimento todo. Segundo ele, muita gente se afasta do veganismo por achar essa culinária trabalhosa e restrita. "Os novos produtos facilitam a vida do vegano e a adesão de mais pessoas."
Quem também comemora a onda "vegan" é Augusto Pinto, 45, chef e dono do restaurante vegetariano Goa, em Pinheiros. "Fiquei mais de dois anos vendendo 30 pratos por dia. Hoje, faço 190 em um dia, no final de semana", compara. Segundo ele, o perfil de seu público é de simpatizantes. Só 20% dos frequentadores, no cálculo do proprietário, seguem rigorosamente a dieta vegetariana.
Já o chef Esmar Cestari, 47, dono do restaurante vegetariano Fulô, nos Jardins, vê com restrições esses substitutos que parecem, mas não são: "O ideal é desenvolver um prato a partir da identidade do alimento, e não simular coisas. É preciso saber o que fazer com a "carne" de soja, porque ela não é carne e nunca vai ser", diz.
Mas Cestari reconhece que, para o neófito, é importante buscar uma comida com paladar semelhante ao que ele já conhece e gosta. "Só que soja não serve para substituir a carne em termos de paladar."


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