TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A coisa mais chique sobre o shopping Cidade Jardim, até agora, é ter como loja-âncora a Livraria da Vila. Na verdade, por loja-âncora, eles entendem aquela que oferece possibilidade real de consumo a uma gama maior de gente do que o público-alvo de suas grifes de luxo.
Elegê-la ajuda a amenizar a mensagem básica do empreendimento, que, com sua combinação de madeira escura, luz natural e paisagismo à Bal Harbour, emite um sonoro e geral "não é para o seu bico". Naquele contexto, até a Osklen parece uma loja de preços razoáveis.
O bom do shopping proibitivo é que o estacionamento nunca lota. Desembarcando no piso da livraria, a pessoa é pega pela lufada de perfume que emana da Daslu. Na vitrine, um poncho de pele está cotado em R$ 7.000. Na categoria desejo não realizável, prefiro a loja do Carlos Miele, com vestidos de sonho a preços absurdos.
Lembrar-nos do planeta onde vivemos não é o único mérito da Livraria da Vila do shopping, embora, nas circunstâncias, a sensação caia bem. A arquitetura, com sinalização fina de museu, escada monumental, mezanino silencioso e janelas para o rio, expande o projeto da filial dos Jardins, que já entrava firme na seara dos livros de mesa, CDs e DVDs, embora em uma escala mais aconchegante.
São legais os toques de humor, como os arranjos decorativos feitos com livros em estantes inalcançáveis e vitrines; os cantos de leitura; e o convite geral à interação. Como na mesa dos livros impossíveis, onde edições limitadas e gigantes da obra de Jeff Koons ou da coleção de imagens "The Earth Seen from the Sky" podem ser filadas sem pressão.
Com reputação que deve, antes de tudo, à seleção primorosa de literatura, falta à Vila completar sua transição para "megastore" em setores como moda, arquitetura e design. A oferta nessas áreas cai no convencional, ao menos para quem conhece livrarias pequenas, e notáveis, como HaiKai, em Higienópolis, Pop, em Pinheiros, e, apesar do nome horrível, Tocnacuca, na Vila Madalena.