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CRÍTICA DE LOJA [questão de gosto e de opinião]
Megabuxixo vem no pacote megastore
Agora grandiosa, a nova livraria Cultura perde charme
e ganha aquele barulho típico de programão dominical
TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Antes de virar megastore, a
Livraria Cultura ocupava três
lojas diferentes no Conjunto
Nacional. Entre livros em geral,
de arte e obras de referência,
era difícil saber ao certo onde
terminava a oferta de uma e começava a da outra. Mas isso
nunca foi problema. Na dúvida,
entrava-se em todas. O apelo
das vitrines era tentador e a escolha de obras, com ênfase nas
artes e nas humanidades, preciosa. O que o arranjo carecia
em grandiosidade e assunto para marketing, tinha de sobra
em eficiência e charme.
Agora, a tradicional livraria
paulista, com 60 anos de mercado, reuniu 100 mil títulos em
uma loja de 4,3 mil m no mesmo prédio. Com ela, a cidade
ganhou a maior coleção de livros em língua estrangeira que
já viu; outro café que serve expressos certificados; e um programão de consumo dominical.
Pela massa que a visita nos fins
de semana, a demanda é fato.
Mas algo se perdeu na passagem, além do Astor, o cinema
que havia ali e que a estranha
arquitetura de balcões e rampas faz lembrar. Livros de arte,
moda, design, gastronomia, cinema, alma da livraria, não têm
mais o espaço e o destaque de
antes. Estão espremidos em estantes longínquas, para além de
uma enorme seção de informática. Na nova Cultura, por incrível que pareça, é mais fácil tropeçar em um livro sobre o Firefox do que em um de arte.
Menos obscura é a localização de outras seções fortes, como a infantil e a de novidades
importadas (agendas e calendários escolhidos a dedo). Mas
incomoda a caixa que guarda a
banca de revistas, declaração
de desconfiança ao cliente; o
café, que além de ser caro, não
se incumbe de limpar as mesas
depois da passagem das pessoas; e a falta de lugares confortáveis para sentar e ler. Ou não
me diga que a forma da Cultura
de honrar a tendência são
aquelas horrendas poltronas-saco do vão central.
Ao vender-se como programa, a impressão é de que a livraria acabou sacrificando um
ingrediente básico nas melhores do mundo: o silêncio. Aqui,
ele é privilégio de quem procura CDs de música erudita ou livros de fotografia. Para vasculhar a oferta da casa nas duas
áreas, que continua muito acima da média, eles têm a paz de
uma sala à parte.
ONDE ENCONTRAR
Livraria Cultura, av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional,
tel. (11) 3170-4033, São Paulo, seg. a sáb.: 9h às 22h.
Dom. e feriados: 12h às 20h.
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