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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]
FILHOS DO PAI
Não é o Brasil que não muda. Somos nós, filhos resignados do PAI, o Programa de Aceleração da Inflação
ENQUANTO A AGÊNCIA Nacional
de Telecomunicações (Anatel) discutia, no começo da semana, se a proibição da cobrança de
ponto-extra de TV a cabo era para
valer mesmo, pensava em uma freqüente afirmação dos economistas,
de que o Brasil afasta investidores
pela insegurança jurídica. E para o
consumidor, não vale essa exigência? Por que o consumidor tem de
engolir a seco o mico da TV digital?
Dei uma busca na internet, em um
dos sites que comparam preços de
produtos, e só encontrei um conversor para TV digital por menos de
R$ 600, ainda mais que o dobro dos
prometidos R$ 200.
Aliás, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, falava, em 2006,
em conversores mais simples, por
R$ 100, e até por 43 dólares (cerca de
R$ 70, ao câmbio da última terça-feira). Não é fantástico?
Alguém já percebeu os benefícios
e avanços propiciados pelo Estatuto
do Torcedor?
Também não me lembro de encontrar, em farmácias, os tais remédios fracionados, para reduzir os
gastos de quem necessita, por exemplo, tomar apenas cinco cápsulas de
um medicamento.
O recall do Fox, da Volkswagen,
demorou dois anos e várias pontas
de dedos para sair.
No sistema financeiro, os bancos
deveriam ter um pacote básico de
tarifas, sem reajuste por seis meses.
O que fizeram? Aumentaram exageradamente o que já era caro, antes
que começasse a valer o semestre
sem majorações.
Pesquisas sobre qualidade de produtos vendidos em supermercados
continuam sem ser divulgadas, por
ordem judicial, atendendo a ação
impetrada por supermercados, para
proteger suas marcas próprias.
Eventuais danos à saúde dos consumidores não foram levados em conta nas sentenças.
Dois governos (FHC e Lula) cobraram o imposto do cheque sob a
alegação de que se destinava à saúde. Os hospitais públicos continuaram com doentes amontoados no
corredor, ou em uma via-crúcis em
busca de atendimento. Consultas e
exames são sempre postergados para as calendas gregas, ou seja, nunca.
Em dezembro, a maldita contribuição foi derrotada, mas agora uma
malta se reúne para reativá-la, repetindo a cantilena da saúde.
São só alguns exemplos, porque
não dispomos de todas as páginas
deste jornal.
O que está por trás disso é o poder
dos lobbies empresariais e políticos,
contraposto à nossa placidez, à nossa acomodação. Não podemos aceitar mais esse desrespeito. E nem disfarçar nosso imobilismo com argumentos do gênero "o Brasil é assim
mesmo".
Em todo o mundo, outros países
nos olham com admiração e inveja,
pois a cada semana se descobre um
novo poço de petróleo, produzimos
álcool combustível, temos uma poderosa agroindústria e avanços em
várias áreas da economia.
Não é o Brasil que não muda. Somos nós, brasileiros, filhos conformados do PAI, o Programa de Aceleração da Inflação.
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