São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2008 |
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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor] ESCOLAS NA FEBRABAN
HÁ LISTAS boas, listas ruins, listas curiosas ou inócuas. A lista de Schindler, industrial alemão que salvou milhares de judeus dos campos de extermínio, foi providencial, e o filme que conta sua história é belíssimo. Listas de elegantes, deselegantes, de invenções esdrúxulas, de lugares que temos de visitar antes de morrer são curiosas ou tolas. Não fazem mal nem bem. Livros condenados à fogueira por nazistas ou pela Santa Inquisição foram retrocessos na história da humanidade. Até hoje, temos vergonha dessas listas. Também desconfio de listas de devedores, que comprometem a vida de consumidores, sejam eles caloteiros ou, temporariamente, pessoas em dificuldades causadas por doença ou desemprego. Talvez a pior de todas seja aquela que condena, por tabela, alguém que nada pode fazer para se defender. Refiro-me ao cadastro negativo elaborado pelas escolas particulares, com o objetivo de impedir devedores de matricular seus filhos em outros estabelecimentos de ensino. Ocorre que educação e saúde não são produtos similares a sapatos, bolas de futebol ou colchões. São serviços fundamentais ao desenvolvimento de um indivíduo, responsabilidades do Estado, que permite a atuação suplementar da iniciativa privada. O que as escolas estão dizendo, por vias transversas, com seu cadastro de devedores, é que crianças e adolescentes cujos pais não pagam mensalidades em dia não têm direito de estudar. É isso, sem interpretações. Essas mesmas escolas, sistematicamente, comprometem o equilíbrio entre prestação de serviços e pagamentos, reajustando suas mensalidades acima da inflação. Causa repúdio ver instituições que se denominam "de ensino" agirem como banqueiros, que tomam bens daqueles que não conseguem pagar suas dívidas. O que será que elas ensinam às nossas crianças? A usura, o individualismo, o tratamento cruel dos desfavorecidos, a exclusão e a ganância. Nada mal para um mundo cuja economia faz água, porque os países ricos permitiram que bandoleiros investissem até a comida que a maior parte da população do planeta conhece só de longe. Imagino que, daqui a pouco, escolas também se tornem bancos, pois estão muito afinadas com eles. Poderiam solicitar sua filiação à Febraban, a federação dos bancos. A propósito, hoje, já vendem "seguros" com a matrícula. Os argumentos dos donos de instituições de ensino fundamental e médio são risíveis. A inadimplência é muito elevada, eles têm que se proteger. Comecem reduzindo os preços absurdos que cobram, na maioria das vezes, superiores até aos dos cursos superiores. É certo que a escola pública é ruim, em sua esmagadora maioria, e que deveríamos exigir dos governos ensino de qualidade. Mas a ação das escolas particulares é péssima lição para os futuros líderes do Brasil, que estão em suas dependências, hoje, aprendendo que só o lucro salva. http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br Texto Anterior: Sacolinha Próximo Texto: Crítica de loja: Diversões futuristas Índice |
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