|
Próximo Texto | Índice
TERRA, ÁGUA, FOGO E AR
Veja os novos rumos da cerâmica, velha criação humana feita a partir dos elementos da natureza
ANNETTE SCHWARTSMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A cerâmica é velha, mas está
cheia de energia nova. Uma
prova disso é a profusão de gente produzindo e vendendo, hoje, esse que é o mais antigo material criado pelo homem.
Mais antigo e mais simples, já
que é feito dos quatro elementos da natureza: água, terra, fogo e ar. Há quem ainda associe
essa história de moldar barro
com coisa de hippie, artesanato
rudimentar. Mas a técnica
-surgida quando o homem
deixou as cavernas, virou agricultor e precisou de recipientes
para guardar água, comida e sementes- vive um bom momento de mercado.
"Cerâmica virou moda", diz a
ceramista Sara Carone. Sua colega, Nelise Ometto, concorda,
e diz que anos atrás o material
era desvalorizado. "Quem gostava, usava só na casa de praia".
Hoje, boa parte das lojas de
presentes e decoração oferece
cerâmica artesanal de todo tipo
-inclusive de má qualidade.
No Brasil, a modalidade de
alta temperatura é uma das
mais apreciadas. Essa técnica,
que garante peças mais resistentes, chegou aqui pelas mãos
de imigrantes japoneses, entre
eles a pioneira Shoko Suzuki.
Foi Suzuki quem, em 1964,
construiu no país o primeiro
forno "noborigama" -versão
sofisticada do arcaico forno à
lenha. A artista também ajudou
a superar o caráter exclusivamente utilitário até então atribuído à cerâmica.
Aperfeiçoada a técnica, veio a
depuração do estilo."As pessoas já fizeram coisas empetecadas", lembra Kimi Nii, uma
das ceramistas mais conceituadas, que hoje percebe despojamento no que é criado por aqui.
"O design, agora, é uma linguagem mais compreendida", diz.
Na opinião de Oey Eng Goan,
ceramista e professor da técnica, o que mudou foi o consumidor brasileiro. "Ele ganhou
mais senso crítico e sentidos
apurados para ver a cerâmica
com outro olhar", diz.
Mas nem tudo são flores em
vasos de barro. Para Shoichi
Yamada, que ensina a técnica
na Aliança Cultural Brasil-Japão, o boom do design e da decoração veio seguido de queda
na produção de cerâmica artística. "Não há mais exposições
coletivas como nos anos 80."
A artista Sara Carone concorda, e lamenta que a cerâmica fique fechada em um universo paralelo ao das artes plásticas. "Nem existe crítico especializado aqui", afirma.
Norma Grinberg, outra ceramista cujo trabalho é reconhecido internacionalmente, comenta: "Ainda acham que é só
artesanato, aquela coisa de fazer vaso. Não há cultura que entenda cerâmica como arte", diz.
Sem entrar no mérito do status "artístico", "decorativo" ou
"utilitário" , o fato é que o objeto de cerâmica alargou seu espaço no cobiçado mercado de
decoração. A seguir, um roteiro
com alguns dos melhores ateliês paulistanos.
Veja onde fazer cursos de cerâmica em São Paulo
www.folha.com.br/091264
Próximo Texto: Sacolinha Índice
|