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Tudo sem sair de casa
O velho estilo de vendas por "relacionamento" cresce e não se abala com a crise; mulheres são as mais adeptas
Renato Alarcão
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ANNETTE SCHWARTSMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Sabe a revendedora Avon que
sua avó costumava receber em
casa? Ela é símbolo de um antigo modelo de negócio que vai
de bem a melhor por aqui.
Nesse sistema, ninguém enfrenta trânsito, disputa vaga
nem gasta sapato para olhar vitrines. Dá para comprar quase
tudo sem tirar o pé de casa. E
não tem nada a ver com comércio eletrônico: a venda direta,
ou venda por relacionamento, é
algo bem mais antigo.
Esse tipo de consumo não
ocorre em lojas reais nem virtuais, mas em círculos sociais.
É o caso daquela vizinha da sua
colega que é "consultora" de
beleza e aparece no escritório
distribuindo produtos encomendados e anotando pedidos.
Integram esse segmento de
venda direta desde multinacionais como Amway e Avon até
nacionais como Natura. Pelas
coisas que vendem, não é difícil
deduzir que a maioria dos seus
consumidores é do sexo feminino: segundo a Associação
Brasileira de Vendas Diretas
(ABEVD), 88% de suas associadas vendem itens de cuidados
pessoais; 6% vendem suplementos nutricionais, 5% vendem cuidados do lar e 1%vendem serviços.
Essas empresas não se abalam com a crise. Movimentaram R$ 4,4 bilhões no primeiro
trimestre, representando crescimento de 18% em relação ao
mesmo período de 2008 (a expansão do comércio varejista,
no período, foi de apenas 3,8%).
Uma das explicações para esse desempenho, segundo Lírio
Cipriani, presidente da
ABEVD, é que o setor de venda
direta trabalha com produtos
de valores baixos. "Como a crise afetou o consumo de bens
duráveis, o dinheiro que deixou
de ser gasto para renová-los
passou a ser usado em cuidados
pessoais, principais itens comercializados nesse modelo."
Outro motivo é o crédito. Na
venda direta, tudo é baseado na
confiança, já que em 99% dos
casos vendedores e compradores se conhecem. "Não é aquele
crédito formal das lojas que,
para conseguir, o sujeito precisa preencher cadastros intermináveis e comprovar rendimentos", compara Cipriani.
Além disso, a venda direta
funciona como fonte de renda
alternativa. "Como a crise reduziu os empregos formais,
nesse momento a venda direta
se oferece como forma fácil de
obter rendimentos sem grandes investimentos. Os kits são
baratos, o revendedor recupera
rapidamente o dinheiro", diz.
É o caso de Massako Tsujita
Hirakawa, 72, e sua filha Maria
Aparecida, 43. A mãe, viúva e
revendedora da Avon desde
1962, criou a menina com o que
ganhava nas vendas porta a
porta. Hoje, é dona de três imóveis. A filha, que cresceu ajudando a mãe a separar batons
pela cor, formou-se em psicologia, com mestrado e tudo. Mas
acabou largando a carreira para
dedicar-se às vendas. Hoje, tem
500 clientes fixos e estima seus
ganhos mensais em R$ 10 mil.
Mãe e filha fazem parte de
um contingente de revendedoras que hoje somam 5 milhões
de pessoas (ver texto ao lado).
Solange Gonçalves, 46, revendedora do grupo Hermes há
oito anos, dedica tempo integral à atividade e diz que ganha
mais de R$ 2.000 por mês vendendo, principalmente, roupas.
No início, batia de porta em
porta oferecendo novidades a
desconhecidos. Hoje, tem uma
clientela fiel de 150 pessoas,
que visita em residências e locais de trabalho.
Para o consumidor, além da
comodidade óbvia de não precisar se deslocar para ter em
mãos o objeto do desejo, conta
também o fato de que é quase
sempre possível ver uma demonstração ou até testar o produto antes da compra. "Quando
escolho um hidratante ou xampu, posso sempre experimentar e tirar dúvidas", diz Maria
de Castro Gonçalves, 60, que
faz seus pedidos da Natura para
a tia de seu marido, que é consultora há mais de 20 anos.
Em outras palavras, a venda
direta oferece uma experiência
de varejo personalizada com
pessoas que conhecem bem os
produtos -uma combinação
conveniente e informativa,
nem sempre disponível nas lojas físicas, e nunca nas virtuais.
Para Maria José Constâncio,
62, que costuma gastar cerca de
R$ 40 por mês em itens para casa do grupo Hermes, outras
vantagens são a facilidade para
negociar a forma de pagamento
e trocar o produto caso haja defeito. "Sinto que o meu dinheiro é valorizado, o que nem sempre acontece nas lojas", diz.
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