São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

Roupa na medida


Não há evolução nas relações de consumo se o consumidor cruza os braços e espera que outros façam tudo por ele


COM QUE ROUPA EU VOU, perguntava o famoso samba de Noel Rosa. A dúvida, frequente, não se refere apenas ao estilo, mas ao tamanho da roupa.
Tenho um amigo que comprou um jeans e teve de trocá-lo, pois estava apertado. A loja ofereceu outro de um número menor mas, apesar disso, maior do que o anterior!
É um caso extremo, eu sei, mas quem tem certeza de que o número que costuma usar vai servir em toda e qualquer confecção? Ouvimos constantemente que o "M" (médio) equivale ao "P" (pequeno), em determinada marca. E o consumidor "grande", digamos, nunca sabe se leva o "G" ou "XG" (grande ou muito grande), porque varia de um lugar para outro.
Você poderia perguntar, leitor, leitora: por que não se padronizam os tamanhos do vestuário no Brasil? Até agora, quem decide que padrão usar é o fabricante. Felizmente, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) criou o projeto de Padronização de Norma do Vestuário com referências de medida do corpo humano.
Em lugar de números ou letras, vamos ter três faixas (infantil, masculino e feminino), e o cruzamento de dados como estatura, em centímetros, e outra medida do corpo (por exemplo, quadril).
Até o próximo dia 29, ocorrerá consulta pública no site da ABNT (www.abnt.org.br). A previsão é que a padronização comece a valer ao longo de 2010.
Vai facilitar a vida de consumidores, lojistas e fabricantes, principalmente nas compras pela internet.
É uma medida (sem trocadilho) tão boa que poderia ser estendida a outras áreas de consumo. Já faz algum tempo que defendemos a padronização das embalagens de enlatados e de outros produtos alimentícios, de higiene e de limpeza. E também a fixação do preço por quilo, litro, metro etc.
Hoje, é impossível comparar preços sem uma máquina de calcular. Muitas vezes, o produto que está em oferta na gôndola do supermercado não é o mais barato.
Assim, o consumidor ganharia maior poder de decisão. Isso seria bom para todos, com efeitos no controle da inflação e no estímulo à competição entre marcas, que é um pressuposto do livre mercado.
Já que a ABNT gera essa expectativa tão positiva para o ramo de vestuário, podemos sonhar com mais transparência em pesos e medidas de toda a indústria. É o que defendemos sempre: o mercado pode ser livre, mas tem de obedecer a normas que permitam ampla escolha.
Dê sua opinião na consulta da ABNT. Participe, pois não há evolução nas relações de consumo se o consumidor cruza os braços e espera que façam tudo por ele.
Mexa-se em prol do seu conforto, da facilidade na compra, da possibilidade de comparar preços e qualidade. Nesse caso, quando você optar por uma roupa mais cara, mas com melhor acabamento, tecido e design, estará fazendo isso de maneira consciente -o que deveria nortear todas as nossas compras.


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