São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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CRÍTICA DE LOJA [questão de gosto e opinião]

COMPRAS DO "BEM"

ONG vende coisas legais, mas em espaço sem charme


O trabalho social com artesanato é uma cena muito irregular: há quem ajude os artesãos a repetir equívocos, quando não a desenvolver novos erros

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O colorido das cestas e flores de papel ajuda a dar alguma visibilidade à vitrine, encarapitada sobre um trecho particularmente árido da avenida Nove de Julho. Na porta, uma moça explica que não se trata bem de uma loja, mas do anexo onde a escola de idiomas Yázigi abriga sua ONG Ponto Solidário, que vende artesanato de cooperativas, comunidades, aldeias indígenas e organizações sociais do país inteiro. O pedido de desculpas é para amenizar o impacto negativo do "layout": espaço apertado, mobiliário inadequado e aquele ar constrangedor de arranjo possível. Mal sabe a moça, mas causaria muito mais impacto no conformado consumidor solidário se a cena fosse outra. Quando se trata dessa honrosa forma de comércio, a falta de charme, de conceito -e de grana- parece vir no pacote. Tanto quanto a oferta irregular, retrato das diferenças entre trabalhos sociais com artesanato. Nessa cena de grande, digamos, diversidade, há os que contribuem para preservar tradições artesanais, quando não criar novas; e aqueles que tratam de ajudar os artesãos a repetir equívocos, quando não desenvolver novos. Como anuncia o conteúdo do site, a seleção da Ponto Solidário é acima da média. Inclui peças tradicionais, e lindas, como os sousplats de trançado de carnaúba do Piauí; invenções finas, como as echarpes da Tissume, grupo de mulheres de Goiás que mistura fios de seda e palha de buriti; boas idéias de reciclagem, como os bichos de madeira naval da Fundação Almerinda Malaquias, do Amazonas; e itens engraçados, ainda que estritamente utilitários, caso da corda de varal de PET. Por último, mas melhor do que tudo, a ONG oferece um pequeno tesouro em utensílios e arte indígena, com destaque para os animais de madeira e as esteiras de palha e fios coloridos dos mehinako, do Alto Xingu. As peças custam a partir de R$ 35, bem menos do que valem. Preço justo para quem, cara-pálida? É pena que um trabalho decente de prospecção não disponha de armas mínimas para competir no comércio: uma marca forte, um espaço que ajude, e, importante, um modo inteligente de agregar aos objetos informações sobre onde, como e por quem são produzidos. Alguém bem que podia pagar por isso.


ONDE ENCONTRAR
Associação Ponto Solidário
av. Nove de Julho, 3.186, Jardim Paulista, tel. (11) 2132-7459, São Paulo www.pontosolidario.org.br



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