São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

DO CÉU AO INFERNO NOS BANCOS


Se você tiver dinheiro sobrando, os bancos serão tão gentis que você se sentirá VIP. Se não, verá que também há castas sociais por aqui

BANCOS NOS oferecem serviços que não solicitamos e dos quais não necessitamos. Tornaram-se "supermercados de produtos financeiros".
Correm todos atrás dos mesmos correntistas, aqueles que têm uma renda realmente de classe média. E que, em tese, poderiam investir, comprar seguros, ter mais cartões de crédito e fazer empréstimos a juros nada amigáveis.
Alguns bancos dizem que são diferentes. Aliás, a maioria tenta mostrar aos correntistas que, bem, não são instituições financeiras, e sim centros de serviços.
Suas propagandas são simpáticas, criativas, alto-astral. Sem dúvida, têm polpudas verbas de propaganda e contratam as agências mais premiadas e eficientes.
Banqueiros são tratados com tapete vermelho pelos três Poderes.
Raramente perdem uma disputa judicial. Certo, eles têm batalhões de bons advogados, mas também são vistos como detentores de todos os direitos. E os deveres? Bem, ficam para o lado dos correntistas.
Se você tiver dinheiro sobrando, as instituições financeiras serão tão gentis e prestativas que você se sentirá muito importante, um "VIP".
As ligações se sucederão. Você receberá correspondência de vários bancos, não apenas daquele com o qual trabalha. Serão ofertas de crédito, de dinheiro fácil (exceto na hora de pagar os juros).
Mas tente obter capital de risco, para um empreendimento e verá como as coisas não são tão róseas.
Se você investir pouco, porque o mês e as contas foram maiores do que o seu salário, verá que as castas sociais também existem por aqui, disfarçadas ou não.
As filas, as tarifas, os juros são provas de que os bancos, neguem eles ou não, são, acima de tudo... bancos.
Pequenos exemplos mostram bem isso. Uma colega trocou as moedas da filha por cédulas. E, ciente da necessidade de moedas no mercado, levou-as à agência bancária "premium" na qual tem conta.
Lá, foi informada de que deveria ter separado as moedas de valores iguais em sacos plásticos. E que, se houvesse quem contasse as moedas, ainda assim não receberia o valor em dinheiro. Este seria depositado em sua conta.
Minha colega reclamou sem meias palavras. A bancária resolveu aceitar as moedas, sem contá-las, mas avisou que, se houvesse diferença entre o valor real e o declarado, a diferença seria descontada de sua conta corrente.
Por que os bancos continuam abusando tanto da paciência do consumidor, com cobranças indevidas, tarifas inexplicáveis, juros estratosféricos, filas quilométricas?
Porque o Banco Central, que sempre os tratou a pão-de-ló, é rápido no gatilho para aumentar a taxa Selic, que remunera os papéis do governo.
Que, por sua vez, enchem os cofres dos banqueiros. Se ganham tanto rolando a dívida do governo federal, por que esquentar a cabeça com os direitos dos consumidores?
Agora que os preços das commodities começaram a cair mundialmente, será que o BC baixará rapidamente as taxas de juros? Quem pagar, verá.

http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br


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