Perto dos preços exorbitantes das bolsas da Hermès, que acaba de abrir filial em SP, lenços de R$ 1.900 parecem até acessíveis

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois de dez anos lutando na Justiça contra um negócio local de venda direta chamado Hermes, o que não deixa de ser uma tremenda ironia, a Hermès francesa abriu sua primeira loja no Brasil domingo passado. Vizinha da arquirrival Louis Vuitton no shopping Cidade Jardim, a loja é um ótimo lugar para comer macarons recheados de chocolate de graça e meditar sobre esses fenômenos que chamamos "marca" e "luxo", e que, combinados, têm o condão de fazer um babador de criança custar R$ 500 e um boné, R$ 1.200, para citar dois dos produtos mais baratos da casa.
A Hermès tem raízes na fabricação artesanal de acessórios para a prática do hipismo; coisa que faz até hoje, como lembra a sela exposta na loja, entre perfumes e joias de prata, e cujo preço você não reúne forças para perguntar. O perfeccionismo no tratamento de couros e afins é cultivado como substrato essencial da marca, assim como o exotismo à francesa impresso em "foulards" célebres, e o dom de criar subgrifes, como a bolsa Kelly, que ganhou o nome depois de ser usada pela atriz Grace Kelly.
Objeto máximo de desejo entre abastadas dos mercados em ascensão, as ditas-cujas bolsas estão todas lá, para provar que a segunda grife mais valiosa do mercado de luxo no mundo não faz por menos. Se ouvi direito, uma Birkin de couro de avestruz custa R$ 52.900. Mas pode-se também optar por uma novidade, a bolsa Lindy, em torno de R$ 20 mil. Pelo desenho, ela não parece assim tão destinada ao sucesso, mas sabe Deus qual membro da realeza ou do "star system" pode aparecer usando uma amanhã.
Os couros também estão em acessórios, como a linha para charuteiros; para além deles, há louças, mantas e roupas, incluindo vestidos de tricô colorido por surreais R$ 5.900. O melhor são os lenços de seda, pequenas e eternas festas de cores em padrões novos ou clássicos, eles sim, luxuosos. No tamanho padrão, com 90 cm de lado, custam R$ 1.900, o que, a essa altura, parece justo. Ou seja: hora de ir embora.