São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

Vamos discutir a saúde já


O desafio é investir em medicina preventiva e atacar o alcoolismo, o tabagismo e a alimentação inadequada


A SAÚDE É O MAIOR problema do Brasil hoje. Será bem pior daqui a alguns anos.
Por que afirmo isso tão categoricamente? Porque cerca de 40 milhões de brasileiros têm planos de saúde privados. Nas faixas etárias acima de 50 anos, os preços são impagáveis. Exceto se você tiver um plano empresarial, nos quais os custos se diluem pela quantidade de beneficiários e pela predominância dos mais jovens.
A medicina avança com a velocidade da Fórmula 1, os custos ainda mais. Brevemente, haverá terapias com células-tronco para quase todo tipo de doença. Elas ampliarão as chances de cura e a longevidade, mas quem pagará isso?
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enfrentou a oposição republicana, que nunca aceitou sua proposta de programa público universal de saúde.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição de 1988. Ideia excelente, iniciativas elogiáveis, mas falta o principal: orçamento que suporte as necessidades crescentes do país.
Há, evidentemente, distorções, como pacientes que viajam milhares de quilômetros até o Hospital das Clínicas, em São Paulo, pois seus governantes locais preferem investir em ambulâncias a criar uma estrutura de saúde nas cidades e Estados que governam.
Com isso, o atendimento fica caótico nos maiores centros, enquanto os menores exportam doentes.
Há, também, desperdícios, problemas de gestão e monopólios em áreas como órteses, próteses e materiais especiais, que inflam preços e encarecem tratamentos e cirurgias.
Nos planos privados, há guerra aberta contra a sinistralidade -os custos para atendimento aos clientes- e evidente desinteresse por usuários idosos e com doenças crônicas, que aumentam os gastos das operadoras.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) intervém fortemente nas empresas, ampliando o rol de procedimentos.
O fundamental, contudo, continua por ser discutido: como bancar, na iniciativa privada e na gestão pública, a inevitável elevação de preços da medicina?
Com a expectativa de vida se aproximando dos 80 anos em algumas regiões do Brasil, e a ampliação do percentual de idosos, essa questão deve ser discutida já. Em lugar de centrar fogo em governos pretéritos, briga quase fratricida, haja vista a política econômica que, em linhas gerais, é a mesma nos últimos 16 anos, seria melhor pensar em como bancar a saúde.
Sem pensar em novos impostos e taxas, pois R$ 4 de cada R$ 10, aproximadamente, já são tributos. Então, o desafio é melhorar o investimento em medicina preventiva e em hábitos mais saudáveis de vida, atacar o alcoolismo, o tabagismo, a alimentação inadequada e o sedentarismo e melhorar a gestão do dinheiro público.
Como a União ficará com parte dos bilhões do pré-sal, poderia, por exemplo, destinar 100 % dos recursos para a saúde. Pontes e viadutos dão mais votos, hoje, mas isso vai mudar logo, senhores políticos!


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