São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor] Bom para os bancos
O CADASTRO POSITIVO não vai reduzir significativamente o "spread" bancário. Pode esquecer. Trata-se somente de mais uma exigência dos bancos que não resultará em nenhum benefício para o correntista. Lembrem-se de que, no começo da marolinha, digo, do maremoto, o governo federal liberou uma parte do compulsório retido no Banco Central. Os bancos não agradeceram e nem reduziram o "spread". Aliás, a crise brasileira foi acelerada, talvez além do inevitável, porque os bancos enxugaram o crédito depois de lucrar bilhões e bilhões nos últimos anos. Os banqueiros argumentam que a inadimplência responde por 37% do "spread" médio cobrado em operações de crédito. Vamos fazer de conta que seja assim. Ora, o que reduziu o contrabando de microcomputadores não foi uma lista positiva de consumidores. Foram os preços bem mais competitivos dos equipamentos nacionais. Não digo que a situação seja igual, mas, se os bancos não tivessem unhas tão grandes, talvez mais correntistas honrassem suas dívidas. Além disso, duvido que só haja inadimplentes no Brasil. Mas o ranking mundial do "spread" mostra que, em outros países, essa desculpa não impacta os custos dos empréstimos como no Brasil. Longe disso. Em troca da tranquilidade de banqueiros e de lojistas, o cadastro positivo invadirá a privacidade dos brasileiros, afunilando ainda mais o acesso ao crédito. Talvez, em troca, reduzam o "spread" em 0,001%. O autor de um dos projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional, o deputado Maurício Rands (PT-PE), alega que o consumidor será preservado, pois o cadastro só poderá ser aberto com autorização explícita do interessado. Ocorre que, tão logo esse cadastro seja aprovado, bancos e lojas exigirão a abertura dessas informações para analisar a concessão de crédito. Ou seja, concordando ou não, todos seremos obrigados a aceitar a inclusão de nossos dados nessa listagem. Outro problema do cadastro é sua avaliação. Ela não é cartesiana, ou seja, 1 mais 1 é igual a 2. A avaliação será feita de maneira subjetiva, pois cada instituição financeira ou de comércio terá seus parâmetros para manter, ampliar ou reduzir os juros para determinado consumidor. Não há como obrigá-los a seguir uma só regra a partir do banco de dados do cliente. Se o "spread" bancário, no Brasil, é várias vezes superior ao da maioria dos países do mundo, inclusive da vizinha Argentina, antes de pensar em cadastros, o governo deveria exigir mais dos bancos, que têm muita gordura para queimar. Quem ganhou muito tem mais a oferecer do que quem só pagou a conta. Não é justo que, novamente, o culpado seja o carneiro, não o lobo. A corda, porém, sempre arrebenta do lado mais fraco. "spread" no crédito alheio é refresco. http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br Texto Anterior: Liquidações Próximo Texto: Cobaia: O teste da dor Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |