São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2008

Próximo Texto | Índice

Tendências 2009 - 2010

Chega de Consumo Contemporâneo

O consumidor está cheio do presente: ele busca o novo no passado e deseja estilos indefiníveis, atemporais, como o da TV de plasma, abaixo, disfarçada no design retrô. Essa é uma das direções que nortearão o desenvolvimento de produtos nos próximos anos, de acordo com estudo do escritório Observatório de Sinais

Felipe Reis


HELOÍSA HELVÉCIA
EDITORA DO VITRINE

O consumidor chega ao fim da primeira década do século 21 cansado do aço escovado, do design arrojado, da sala vazia. Está "por aqui" de estilo "contemporâneo", etiqueta costurada a torto e a direito, enfeitando de nome de curso a texto de lançamentos imobiliários.
Que venha, então, o "não-contemporâneo", uma das orientações do consumo para 2009 e 2010, segundo o Observatório de Sinais, consultoria especializada em tendências e projeções. Esse novo humor é uma evolução do interesse atual por tudo que é retrô; um desejo por coisas sem tempo definido -portanto duráveis; uma tentativa de criar um jeito de viver não-classificado.
A exemplo do que aconteceu com palavras como "comportamento" e "atitude", esvaziadas de sentido, "contemporaneidade" é o que o sociólogo Dario Caldas chama de "conceito-marmitex": "Virou panacéia, desfecho óbvio de todas as propostas "inovadoras"... Tudo discurso vazio", diz o diretor do Observatório de Sinais. Ele explica que o rótulo passa a ser percebido como "sinônimo de descartável, sem alma, sem apelo, à beira da massificação".
É claro que essa preguiça diante de outra cadeira lançada em Milão ou da nova tecnologia "must have" é típica de um consumidor mais sofisticado, mas, no estudo que a Folha adianta aqui com exclusividade, esse "sofisticado" é no sentido de mais bem informado, e não no sentido de elite social.
O não-contemporâneo responde ao esgotamento daquilo que o estudo classifica de estilo "Wallpaper". A revista inglesa, criada 12 anos atrás, virou sucesso mundial ao vender um jeito de viver específico para jovens globalizados, sôfregos por novidades. Público que o criador da revista, o jornalista Tyler Brülé, define como "tribo urbana de neomodernistas sem fronteira".
Em termos estéticos, o "estilo wallpaper" é um repertório bem definido: "Vai dos metais brilhantes com madeira escura a sofás tipo lounge e eletrodomésticos em inox. Em qualquer grande metrópole, as mesmas lojas e marcas, os mesmos objetos, até as mesmas casas noturnas. Todos esses pequenos sinais de identificação de uma década serão apropriados, agora, pelas novas classes médias. É a classe C brasileira que vai atrás do contemporâneo", afirma Caldas.
Enquanto isso, o topo da pirâmide de consumo foge para o passado. Uma das evidências da tendência, registrada no estudo da consultoria, não é uma, são 400: esse é o número aproximado de lojas de roupas vintage bombando hoje em Tóquio. Outra são os editoriais das revistas de moda, em qualquer país, propondo looks ecléticos, sem fazer referência clara a uma ou outra época.
"Na sensibilidade do não-contemporâneo, a relação com o presente se estabelece de duas maneiras: ou atualizando o passado ou buscando um atemporal que se distancie dos modismos. O não-contemporâneo faz evoluir esses fenômenos para uma recusa de tudo o que não comunicar história, origem ou um éthos definido", explica o sociólogo.
No Brasil, um sinal da tendência foi a última Casa Cor. Um dos ambientes expostos mais comentados, o hall de entrada, se não era clássico, também não era deste tempo. Outro exemplo (bem mais divertido) citado no estudo é o grupo Los Super Elegantes, formado em Los Angeles por um casal de artistas, ela mexicana, ele argentino. Presença confirmada na Bienal de São Paulo, a dupla chama a atenção dos radares do futuro por não ser nem "super", nem "elegante". Muito menos "contemporânea".


Próximo Texto: A construção do luxo brasileiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.