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26/01/2012 - 10h59

Grafiteiro Tempt volta à ativa com "óculos mágicos"

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FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A PARK CITY, UTAH

Foi com a ajuda de um estranho que o artista americano Tony Quan voltou a desenhar pela primeira vez em sete anos, desde que se viu paralisado numa cama de hospital. O feito aconteceu com a criação de um aparelho chamado "Eyewriter" (olho escritor), eleito pela revista "Time" como uma das 50 invenções de 2010.

Os altos e baixos do processo para fazê-lo funcionar, além da jornada pessoal de Quan, estão no documentário "Getting Up", selecionado para o festival Slamdance, que acontece paralelamente ao Sundance, em Park City, no Estado americano de Utah.

Grafiteiro pioneiro da cena de Los Angeles desde os anos 80, Quan é conhecido como TemptOne e era também editor de uma revista e ativista social. Até que em 2003 foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa sem cura, e, em pouco tempo, estava sem poder se mexer, falar ou respirar, apenas com o movimento dos olhos.

Entram em cena amigos da comunidade para levantar fundos, reunindo obras de gente como Barry McGee e Shepard Fairey para uma exposição beneficente. E surge também Mick Ebeling, marido de Caskey, diretora do documentário, ambos convidados por um amigo para a abertura da mostra.

Mick, criado numa família de filantropistas, é dono de uma produtora de animação, design e comerciais. Num primeiro momento, ele doou dinheiro para Tempt ter acesso a um computador que traduz para uma voz robótica suas palavras formadas numa tela atráves de movimentos dos olhos.

Divulgação
Grafite criado com o "Eyewriter" (olho escritor), eleito pela revista "Time" como uma das 50 invenções de 2010
Grafite criado com o "Eyewriter" (olho escritor), eleito pela revista "Time" como uma das 50 invenções de 2010

Depois, resolveu ir além, ao conhecer o grupo Graffiti Research Labs (GRL), que na época divulgava suas pesquisas sobre grafite a laser. "A gente simplesmente conectou os pontos", disse Mick à Folha. "Se Tempt consegue operar uma máquina com os olhos, e se juntarmos isto com o grafite a laser?"

Em 2009, Mick convidou meia dúzia de hackers e artistas membros do GRL para passar duas semanas em sua casa em Venice Beach e desenvolver um software que, conectado a um óculos com uma câmara embutida, é capaz de permitir que pessoas com paralisia possam desenhar com os olhos.

No filme, Tempt aparece deitado na cama com os óculos fazendo grafites no computador, apesar das frustrações com as limitações do programa. Num evento à noite, ele projeta do seu quarto "pichações" em tempo real no paredão do hospital, feitas de laser azul, temporárias. Em outro momento, amigos ajudam a transformar um de seus desenhos numa escultura em três dimensões para uma exposição de arte urbana num museu em Pasadena (Califórnia).

"É um processo frustrante e cansativo para ele. Não escondemos isto no filme. O software passou por muitas evoluções, mas parou", explica o amigo grafiteiro Angst, um dos personagens constantes do documentário, que foi ao festival ajudar a divulgar o projeto e o filme.

A Dell tentou melhorar o Eyewriter, mas desistiu. Agora, a Samsung testa o aparelho com pacientes com paralisia na Coreia do Sul e já conseguiu baratear o custo de sua fabricação de US$ 10 mil para US$ 45. Segundo Mick, a firma promete publicar os códigos ao finalizar suas pesquisas.

O software original é "open source", ou seja, seus códigos estão disponíveis na internet, no eyewriter.org.

"Um dos desafios do projeto é manter contato com todos que estão trabalhando com o software e criando novos hardwares para que os novos interessados não tenham que começar do zero", disse Mick.

"Há muitos professores que dão o Eyewriter como lição de casa para seus alunos. Parece complexo, mas o mais difícil já foi feito, que é o software. Dá para montar os óculos na mesa da cozinha de casa."

Atualmente, Tempt continua no hospital e sua habilidade de piscar está se deteriorando, o que prejudica o uso do aparelho.

"Tempt se envolveu bastante no filme, dava ideias, escrevia entrevistas, passava anotações. Tudo tinha que ser muito bem apurado para não ficar estranho na comunidade do grafite", disse a diretora Caskey, que faz sua estreia em documentário após dois curtas, um deles chamado "Package" (2007), rodado com atores brasileiros no Rio de Janeiro.

"Getting Up" ficou pronto faz pouco mais de uma semana e deve ter estreia em Los Angeles ainda neste semestre. Para saber mais, visite o site notimpossiblefoundation.org.

 

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