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Festival de Trancoso alia projeto educacional a solistas internacionais
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SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA
Acima, o céu estrelado; na terra, música clássica soando do alto das falésias baianas: entre 17 e 24 de março foi realizada a primeira edição do festival "Música em Trancoso", evento que promete integrar anualmente o calendário nacional de concertos.
Quem chegou para as apresentações finais de sexta-feira e sábado viu o anfiteatro projetado por François Valentiny (com capacidade para 800 pessoas) completamente lotado. No início da semana, entretanto, a chuva havia exigido adiamentos e adaptações na programação.
Haver no Brasil um festival com a presença das irmãs pianistas Katia e Marielle Labèque ao lado de integrantes da Filarmônica de Berlim --além de uma noite de música popular liderada por César Camargo Mariano-- não precisaria de qualquer justificativa adicional, ainda mais com entrada franca para todas as atividades.
Mesmo assim o projeto poderia soar algo artificial, não fosse a presença humanizadora da Orquestra Juvenil da Bahia. Dirigida pelo pianista e regente Ricardo Castro, o grupo integra o Neojibá (Núcleo de Orquestras Juvenis e Infantis do Estado da Bahia), proposta arrojada de educação musical e inclusão social através da música clássica inspirada no Sistema venezuelano.
Hospedados no mesmo hotel dos convidados internacionais, os jovens deram vida e graça ao evento. Foi, portanto, a consistência de um trabalho regular desenvolvido na própria Bahia que permitiu a integração entre as peças do "Música em Trancoso".
O surpreendente nível das madeiras, o brilho dos metais e o swing dos percussionistas já haviam chamado atenção no concerto realizado por eles na Sala São Paulo no ano passado: mas a evolução de lá para cá foi notável, o que inclui também as cordas, que trabalham arduamente em busca de maior coesão.
O próprio Ricardo --pianista de destacada carreira internacional-- pareceu mais à vontade como regente, em casa, em família, colocando o grupo a serviço dos solistas de modo raro.
A orquestra jovem trabalhou e tocou com os experientes músicos internacionais (que ministraram aulas ao longo da semana), e revelou um excelente sentido de adaptação a diferentes estilos, passando de Tchaikovsky a Mozart e daí a Puccini, Bernstein e Ginastera, na sexta-feira, ou por Beethoven, Elgar, Poulenc --tendo o duo Labèque como solista-- e Verdi, no sábado.
Além do duo francês, detacaram-se especialmente o clarinetista Walter Seyfarth e o fagotista Richard Galler. A presença de números vocais --a cargo da soprano Julia Thornton e do tenor Tadeusz Szlenkier-- pareceu um pouco gratuita, embora tenha agradado bastante o público.
Talvez os programas pudessem ser organizados tematicamente, de modo a ganhar unidade sem perder a espontaneidade. E apesar da amplificação ter funcionado bem, o vento chegou a tirar a concentração dos músicos em diversos momentos.
Não faltaram também fogos de artifício a céu aberto no final da "Abertura 1812" de Tchaikovsky, obra escolhida para encerrar o programa final.
Para além dos efeitos, no entanto, fica o gesto franco de Ricardo Castro que --ao invés de reger a peça inicial do último concerto-- passou a batuta ao jovem percussionista Yuri Azevedo, também estudante de regência: sob aplausos do público geral e dos eminentes músicos internacionais, foi ele quem regeu o "Finale" da "Quinta Sinfonia" de Beethoven.
Festival "Música em Trancoso"
Avaliação: bom
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