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Diretor de "O Profeta" leva violência a Cannes
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RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Cannes 2012, definitivamente, não é para moças.
No primeiro dia, a diretora Andrea Arnold ("Fish Tank", 2009) levantou a bola de forma bem-humorada, afirmando que há poucas realizadoras no cinema e que "Cannes pode ser uma pequena representação disso".
O segundo dia do festival tratou de confirmar a tese com a exibição do violento "Rust and Bone", novo filme de Jacques Audiard, que dirigiu "O Profeta", Grande Prêmio do Júri três anos atrás.
O longa conta a história de um ex-boxeador (Matthias Schoenaerts, de "Bullhead", inédito no Brasil, mas indicado ao último Oscar) que se envolve com lutas clandestinas para faturar uma grana extra.
Divulgação | ||
Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts em "Rust and Bone" |
Ironicamente, Audiard operou uma mudança radical em relação ao livro do canadense Craig Davidson, exatamente para deixá-lo com menos testosterona."A protagonista não existe no papel. Mas como fiz 'O Profeta' só com homens, queria ter uma mulher para criar uma história de amor", diz o cineasta.
É como surge Stéphanie (Marion Cotillard), uma treinadora de orcas que sofre um acidente e termina sem as duas pernas.
A personagem é uma viciada em perigo, mesmo que inconsciente. Domesticava baleias e acha que pode fazer o mesmo com o truculento boxeador --a ponto de acompanhá-lo nas brigas em fábricas decadentes.
As cenas de luta são filmadas com uma plasticidade pouco vista no cinema francês, mas Audiard diz que evitou exagerar na pancadaria. "Eu tenho problemas em filmar violência. Não posso dizer que odeio, porque fiz vários filmes violentos", afirma.
"Mas não quis fazer cenas muito sangrentas, porque a personagem feminina está observando as lutas, e eu queria que ela admirasse a coragem dele, e não a violência", completa.
Apesar de o filme ter um apelo para os homens --o boxeador é um sujeito tosco que pergunta se a mulher quer transar enquanto pega um suco na geladeira--, há boas doses de sensibilidade, principalmente por causa da interpretação de Cotillard. "Jacques me pediu para esquecer que eu tinha pernas e cair no chão se tentasse levantar."
A mistura de brutalidade com uma intriga de reconciliação agradou na sessão para a imprensa em Cannes. O longa foi aplaudido duas vezes e é o primeiro a se candidatar seriamente à Palma.
A questão é: estaria o festival preparado para premiar um filme de alma tão masculina em meio a críticas sobre a ausência feminina entre os principais competidores?
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