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24/07/2012 - 07h00

Marco Nanini e Guel Arraes comemoram 25 anos de parceria com monólogo

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MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

Quando se juntam para trabalhar, algo que têm feito com regularidade nos últimos 25 anos, o diretor Guel Arraes e o ator Marco Nanini costumam ter em mente uma audiência na casa dos milhões e uma série de restrições temporais e criativas impostas pela TV e pelo cinema.

Por isso, a dupla vê como um bem-vindo "respiro" sua próxima produção, o monólogo teatral "A Arte e a Maneira de Abordar seu Chefe para Pedir um Aumento", que estreia no Rio em setembro.

Baseada na obra do francês Georges Perec (1936-1982), grande nome da literatura experimental, a peça é descrita pelos dois como um exercício de pesquisa em atuação e direção --ou seja, "um risco" em termos de público.

"Meu luxo é poder correr esses riscos, senão eu fico muito comprometido, né?", explica Nanini.

"Esse texto faz com que a gente corra o risco, o humor é muito sutil, não é popularesco. A base é uma palestra de autoajuda, mas que resulta inócua, porque nunca se tem uma solução exata."

INQUIETAÇÃO

A montagem está sendo preparada no Galpão Gamboa, espaço que Nanini administra com o produtor Fernando Libonati desde 2008, na zona portuária do Rio.

A ideia é que a peça rode por diversos teatros --da zona sul aos subúrbios cariocas, indo para outras cidades no ano que vem--, sempre com preços acessíveis.

"A gente procura trabalhar com coisas que nos inquietem, mas que sejam populares. Agora, você não precisa fazer tudo para [uma audiência de] 80 milhões. Pode fazer 'A Arte e a Maneira...' para alguns milhares e 'A Grande Família' para 80 milhões", diz Arraes.

ABAIXO A DITADURA

Livre das restrições de tempo e espaço, a dupla ensaia longamente, experimentando variações para cada cena.

"Isso é bom porque tira um pouco da rigidez que às vezes eu sou obrigado a ter. Aqui, você observa mais o ator, refaz um pouco, fica mais aberto. No cinema e na TV, você é mais ditador", diz Arraes.

Para Nanini, o método de trabalho do diretor lembra o de Perec, que se propunha uma série de restrições na hora de criar.

"O Guel é muito perfeccionista. Ele impõe a você vários desafios, não é só chegar e fazer, tem uma série de coisas que você precisa cumprir", diz o ator. "Isso vai me dando objetivos e, ao contrário de me atrapalhar, eu vou mergulhando na história que estou contando."

O diretor assume as semelhanças entre seu método de trabalho e o do autor francês.

"O Perec montava uma espécie de esqueleto e depois tornava essa estrutura invisível. E meu trabalho com o Nanini é meio assim: eu costumo dar uma série de restrições, uma estrutura quase matemática para ele, e ele esconde essa estrutura. Muitos atores ficam apavorados com esse método, mas ele, não."

Ensaiando três vezes por semana, há pouco mais de um mês, Nanini diz que está tentando "dominar o texto".

"Sempre vejo os textos como se eu fosse um escultor com uma pedreira na minha frente. Não sei por onde começar a escultura, então vou tirando as lascas da pedra para ver no que vai resultar. Preciso ficar confortável com ele para colocar emoção, senão ela vem e vai embora."

Cientes de que boa parte da audiência será atraída por seus nomes e pela associação com seus trabalhos mais populares, a dupla diz que, experimentalismo à parte, espera que a peça não seja um choque tão grande.

No ensaio visto pela Folha, o tom cômico e a própria interpretação de Nanini deixam clara a preocupação em não alienar o público.

"O tema, por si só, é palatável. Isso já dá boas-vindas para o espectador, é um assunto [pedir aumento] que ele conhece de cor e salteado. E o texto, apesar de ser refinado, não é pretensioso."

25 ANOS DE PARCERIA

O monólogo também vai servir para marcar os 25 anos de parceria da dupla.

"Eu sempre digo que peguei ele pela mão e o levei para a televisão e ele fez o mesmo comigo no teatro", diz Arraes, que estreou no palco a convite de Nanini, dirigindo-o (em parceria com João Falcão) "O Burguês Ridículo", em 1996.

Nanini, por sua vez, diz que o diretor o livrou da sina de interpretar para sempre o papel de "jovem tímido".

"Ele me apresentou trabalhos surpreendentes para a televisão, tive a oportunidade de fazer personagens que jamais faria se ele não tivesse trazido para mim. E eu me agarrei a isso loucamente."

 

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