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Artista Lourival Cuquinha exibe no Recife obras feitas de dinheiro
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SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL AO RECIFE
Lourival Cuquinha fazia bicos para sobreviver em Londres quando leu num tabloide que a maioria dos ingleses nem notaria a falta de £ 1.000 (R$ 3.200) de suas contas bancárias.
Um desses bicos era levar turistas para cima e para baixo na capital britânica num riquixá, espécie de "charrete em que você é cocheiro e cavalo ao mesmo tempo", nas palavras dele.
Misturando símbolo nacional ao peso suado do dinheiro, o artista então decidiu fazer com os lucros das corridas --valor que depende da distância e do peso do cliente-- uma bandeira inglesa costurando cédulas de libra.
"Não é aquele dinheiro etéreo, que cai na sua conta", diz Cuquinha. "Aprendi a dar outro valor para o esforço físico e também para o dinheiro."
Na mostra que faz agora no Centro Cultural Correios, no Recife, Cuquinha expõe, além da bandeira, um conjunto de riquixás em que o público precisa pedalar para ver projeções das imagens das corridas por Londres.
Divulgação | ||
Detalhe de bandeira feita de cédulas de libras costuradas pelo artista Lourival Cuquinha, agora em mostra no Recife |
Aquela bandeira, confeccionada com as £ 1.000 que passariam despercebidas das contas dos ingleses, foi depois leiloada numa feira de arte por £ 17 mil. De certa forma, toda a obra do artista é uma reflexão sobre os mecanismos abstratos de valor atribuído a obras de arte num circuito de cifras infladas.
Outra bandeira, com cédulas de dólar, que ele fez para hastear do alto de um pau de sebo em Havana, foi leiloada por R$ 80 mil. "É dinheiro costurado vendido por mais dinheiro. É esse trabalho de construir e, quando vender, construir mais valor ainda."
Um dos artistas mais provocadores do circuito atual, Cuquinha também já comprou briga com suas cédulas. Exigindo um cachê por uma exposição no Itaú Cultural, chegou a fabricar cédulas de real com a cara de Milú Villela, presidente da instituição.
Mas antes das obras monetárias, Cuquinha já trabalhava questões de valor em seus projetos. Uma vez, no Rio, experimentou uma réplica de um "Parangolé" de Hélio Oiticica, o museu fechou e ele ficou com o manto colorido perambulando pela Lapa.
Depois expôs a peça atrás de uma cerca elétrica e fixou seu preço de acordo com o valor de mercado --estratosférico-- de um "Parangolé". "Trabalho no limite da legalidade", afirma. "Gosto de obras que dão a cara a tapa."
O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da produção da mostra.
LOURIVAL CUQUINHA
QUANDO de ter. a sex., das 9h às 18h; sáb. e dom., 12h às 18h
ONDE Centro Cultural Correios (av. Marquês de Olinda, 262, Recife, tel. 0/xx/81/3224-5739)
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