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30/08/2012 - 04h29

Obra de Lygia Clark é revista em grande retrospectiva paulistana

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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

"Ele tem afinidade com o caramujo e a concha. É um organismo vivo, uma obra atuante." Lygia Clark descreveu assim o "Bicho", sua escultura metálica articulada, que toma feições distintas quando manipulada.

Ela, que morreu aos 67 anos, em 1988, injetou vida na obra de arte ao tirar suas peças da parede e fazer tudo se desdobrar no espaço, trepar pelos cantos até desabrochar no corpo em suas propostas sensoriais.

Alçada ao posto de musa do neoconcretismo, Clark, consagrada no circuito global e com mostra marcada para 2014 no MoMA, em Nova York, tem a partir de sábado uma grande retrospectiva no Itaú Cultural, uma das maiores exposições entre as paralelas à Bienal de São Paulo, que abre na semana que vem.

Nas artes visuais do país, Clark foi um nome central na transição do moderno para a arte contemporânea, autora de uma obra libertária. No lugar do quadro estático, inaugurou uma presença física no espaço, peças que se descolam da parede, sem moldura.

Divulgação
Lygia Clark com a 'Máscara Abismo', uma de suas propostas sensoriais
Lygia Clark com a 'Máscara Abismo', uma de suas propostas sensoriais

"Na verdade, o que eu queria era expressar o espaço em si mesmo e não compor dentro dele", escreveu a artista. "A superfície bidimensional, na qual o trabalho precisa ser criado, só adquire significado quando é em si mesmo a expressão do espaço."

Na mostra, pinturas da artista feitas em Paris nos anos 1950, ainda sob efeito de um cubismo vibrante, aos poucos dão lugar à redução cromática radical das telas que fez no retorno ao Brasil, quadrados negros separados de outros quadrados negros por um corte na superfície.

"Ela domina a pintura, com uma visão de cor muito rica", diz Paulo Sérgio Duarte, um dos curadores da mostra. "Mas quando ela faz essa redução, uma radicalização cromática, passa a repensar a pintura como um todo."

E também a escultura. Clark desdobra seus ângulos e arestas no "Casulo", chapas de metal dobrado ainda presas à parede, e depois no "Bicho", série que se multiplicou numa fauna pontiaguda.

OBRAS PARA O CORPO

Mais tarde --e talvez essa seja sua maior ruptura em relação a Hélio Oiticica e Lygia Pape, seus colegas neoconcretistas--, suavizou essas linhas no "Trepante", formas metálicas em espiral, e na "Obra Mole", peças de borracha que serpenteiam pelo espaço e ao redor do corpo.

Ferreira Gullar, em sua teoria do não objeto, enxergou na evolução do "Casulo" para o "Bicho" uma síntese desse progresso orgânico, a obra plástica que se tornava cada vez mais atrelada à experiência corpórea e à vida real.

Tanto que Clark, depois do "Bicho", criou uma série de proposições performáticas, com o público dentro da obra, entre elas um túnel de tecido a ser atravessado pelos visitantes da mostra ou pisos e cintos imantados que atraem e repelem os presentes.

Nessa atração e repulsa, Clark criou um campo elástico para as artes visuais. "Recusamos a obra como contemplação passiva", escreveu. "A arte não é uma mistificação burguesa. Agora é você quem dá expressão ao meu pensamento, para daí tirar a experiência vital que deseja."

LYGIA CLARK
QUANDO abre 1º/9, às 12h; de ter. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 11h às 20h; até 11/11
ONDE Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/2168-1776)
QUANTO grátis

 

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