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Crítica: Ótima peça com Lilia Cabral reconstrói tradição quase perdida
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LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Drama novo à brasileira. "Maria do Caritó", espetáculo protagonizado pela atriz Lilia Cabral, confirma Newton Moreno como autor raro, que combina em sua dramaturgia formas de um teatro cosmopolita com temas da cultura popular do interior do país.
Moreno escreveu o texto sob encomenda da atriz, famosa pelas telenovelas.
Ele tirou de seu chapéu nordestino mais uma fábula deliciosa, desta vez estruturada dramaticamente em um registro espetacular típico do Brasil, o circo-teatro.
Não é a primeira vez que ele brinca com essa tradição, mas nunca antes ficara tão evidente o seu virtuoso trabalho de apropriação dela para sintonizá-la com correntes mais atuais, alcançando um público de amplo espectro.
Claudia Ribeiro/Divulgação | ||
Atriz Lilia Cabral em cena da comédia "Maria do Caritó", de Newon Moreno |
O ponto de partida é o caritó, um pequeno nicho de prateleira, nas casas de taipa do sertão, onde se guarda, longe das crianças, coisas a elas interditadas.
O termo torna-se, associado a uma certa Maria, personagem de Cabral, metáfora de sua virgindade guardada por quase 50 anos e em risco de se perpetuar para sempre.
A trama reapresenta, com humor e lirismo, o modelo das peças levadas nos circos brasileiros desde o início do século 20. Os tipos do galã, da ingênua e do vilão aparecem sustentados pelas falas fluentes que seu criador lhes fornece. É marcante como figuras de um universo quase mítico soam naturais e autênticas.
O diretor João Fonseca favorece o resgate da dramaticidade circense, equilibrada entre a caricatura cômica e o sentimentalismo melodramático. Busca contracenar com o público e deixa os atores em liberdade para voarem soltos, o que eles fazem.
De fato, o texto e a encenação seriam inviáveis se os cinco atores não contribuíssem decisivamente. A começar por Lilia Cabral, que encarna nesta tal Maria a santa e a palhaça, a virgem e a fogosa e demonstra seu talento muito além do que os dramas televisivos jamais lhe permitiram.
À sua altura está Dani Barros, numa antológica atuação histriônica em que se transfigura tanto numa galinha estressada como no próprio demônio.
Fernando Neves, um especialista na cena do circo, Eduardo Reyes e Silvia Poggetti também fazem voos solos extraordinários.
"Maria do Caritó" tem estrela de TV, é acessível e diverte. Mas não deixa de ser um marco da dramaturgia contemporânea brasileira, já que reconstrói em elaboração sofisticada uma tradição teatral quase perdida.
MARIA DO CARITÓ
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, e dom., às 18h; até 16/12
ONDE teatro Faap (r. Alagoas, 503; tel. 0/xx/11/3662-7233)
QUANTO de R$ 30 a R$ 80
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo
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