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07/09/2012 - 03h39

Crítica: 'Cosmópolis' mostra busca infinita por poder

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INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Cosmópolis" é um retorno a David Cronenberg. Não o Cronenberg de Freud e Jung, não o dos mafiosos russos --estavam muito OK esses filmes mais recentes, mil por cento acima da média que vemos no cinema. Desde a abertura, porém, "Cosmópolis" é outra coisa: parece o jovem Cronenberg.

"Cosmópolis" marca volta de Cronenberg aos filmes mais experimentais

Aquele das interpretações antinaturalistas, em que os personagens parecem, talvez, drogados. Ou sonados como velhos boxeadores depois de apanhar.

É assim nos primeiros diálogos do filme, em que o motorista adverte Eric Packer (Robert Pattinson) de que aquele será um dia de trânsito terrível, porque vai passar o presidente. "Que presidente?", replica Packer.

Divulgação
Robert Pattinson como Erick Packer, o jovem milionário do filme "Cosmópolis"
Robert Pattinson como Erick Packer, o jovem milionário do filme "Cosmópolis"

O importante é que ele deseja cortar o cabelo. Sendo assim, trata de entrar em sua limusine. A limusine de que é inseparável, onde permanecerá até o final do filme.

Packer é um jovem magnata das finanças. Acaba de fazer uma aposta contra o yuan -tudo lhe diz que a moeda chinesa não deve ultrapassar um dado patamar.

Que importância tem isso? Toda e nenhuma. Toda: nessa aposta ele jogou o que tinha e o que não tinha (é o que se chama de alavancagem). Nenhuma: ele parece indiferente ao risco, tal a certeza de que não é capaz de errar.

Dito isso, a vida segue. Logo ele recebe Didi (Juliette Binoche), consultora artística. Ela revela que existe um Rothko dando sopa. "Não basta", responde Eric. Ele quer comprar a capela Rothko (Houston, Texas). Para Packer não há limite.

Mas, pode-se perguntar, existe vida? Por que ele quer comprar a capela? Porque tem um dinheiro infinito. E esse dinheiro, para quem já tem tudo, não significa nada, exceto poder.
E quando se tem poder é preciso buscar mais poder.

Essa busca é infinita. O jovem Packer pode transar no seu carro, mas não demonstra nenhum prazer nisso. Ou pode dar um tiro em um auxiliar, sem se abalar. Nada significa nada para ele.

Se estamos próximos do Cronenberg do século passado, quando tratava com tanta frequência de seres em estado de mutação, é porque Eric Packer é também, a seu modo, um mutante: o homem-limusine.

Pois a limusine branca que habita também não significa muito: existe apenas para definir uma categoria de mutantes, os seres ligados ao mercado de capitais.

Eles representam o capitalismo em seu estágio mais recente. Não se trata mais de produzir. Esse capital só consegue se reproduzir, se multiplicar. Esse é Eric Packer.

EMOÇÃO E PODER

Não estamos mais às voltas com um manipulador, como em "Wall Street", nem com o deslumbrado de "A Fogueira das Vaidades". Packer não tem medo nem prazer. Não conhece nenhuma espécie de emoção que não venha da acumulação (e da demonstração) de poder.

É o homem-limusine, inexistente como um zumbi e perigoso como uma arma de fogo: essa duplicidade será demonstrada em muitos diálogos e poucos cenários. Pois "Cosmópolis" é um filme de que deve fugir quem procura "ação". Um filme que amará quem percebe quanta ação está ali implicada.

COSMÓPOLIS
DIRETOR David Cronenberg
PRODUÇÃO França/Canadá/Portugal/Itália, 2012
ONDE Cidade Jardim Cinemark, Reserva Cultural, Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca e circuito
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO ótimo

 

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