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07/09/2012 - 05h37

Crítica: Vitalidade compensa erros de "Cara ou Coroa"

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INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Nos filmes de Ugo Giorgetti, o ator vem antes do roteiro. Isto é, "Cara ou Coroa" não existiria sem, por exemplo, esse delicioso chofer de praça de 1971 vivido por Otávio Augusto.

Porque, no centro de "Cara ou Coroa", está o ator --mais ou menos como nos filmes de Jean Renoir: é dele que vem a verdade primeira; o resto surge como decorrência.

Assim como a reconstituição de época. Sim, porque tudo se passa no auge da repressão política.

Mas não se trata de chorar sobre "nossos mártires". Bem ao contrário: para Giorgetti trata-se de afirmar como aquele tempo, apesar de tudo, foi formidável.

Os argumentos que o filme dá para isso poderão ser julgados pelo espectador. E podem ser resumidos em um só: Giorgetti não gosta da maior parte das transformações pelas quais passaram o mundo em geral, e sua cidade (São Paulo) em particular, nos últimos 50 anos.

Daí a reconstituição de época tão naturalmente exata do filme: ela o é não porque alguém vasculhou à exaustão as revistas da época, mas porque se foi em busca de um espírito.

Divulgação
Julia Ianina e Geraldo Rodrigues em cena do filme "Cara ou Coroa"
Julia Ianina e Geraldo Rodrigues em cena do filme "Cara ou Coroa"

REPRESSÃO E CHATICE

É esse espírito que vigora enquanto o filme narra a história do diretor teatral (Emilio de Mello) que, pressionado por um chefe de célula comunista, busca abrigo para dois militantes.

E o lugar mais à mão que encontra é a casa de um general (Walmor Chagas), avô da namorada (Julia Ianina) de seu jovem irmão (Geraldo Rodrigues).

Enquanto acompanha aventuras e desventuras dos personagens, "Cara ou Coroa" detém-se na vida de uma cidade que podia sofrer tanto com a repressão dos militares quanto com a chatice dos stalinistas.

Personagens que enfrentavam a censura com a mesma disposição com que iam papear nos restaurantes, que sonhavam em ganhar na loteria para pagar o aluguel, como o diretor, ou topavam trabalhar na TV, como sua mulher, para sobreviver --"vender-se", na visão do marido.

Uma análise mais acadêmica do roteiro poderá notar eventuais "erros" de estrutura. Com efeito, o autor é capaz de criar e abandonar temas e personagens ao sabor da inspiração (exemplo: a crítica teatral que acaba de sair da prisão tem uma entrada forte e nunca mais aparece).

Os desequilíbrios não são nem ao menos disfarçados. Do mesmo modo, é possível notar em alguns momentos um relaxamento formal (a cena de separação do dramaturgo em campo/contracampo é um desperdício).

São pontos que poderiam ser aperfeiçoados. Mas... que importa? Pode-se muito bem abrir mão da fidelidade às convenções dramatúrgicas, quando se percebe que existe vida ali dentro. E isso não falta em "Cara ou Coroa".

CARA OU COROA
DIREÇÃO Ugo Giorgetti
PRODUÇÃO Brasil, 2012
ONDE Espaços Itaú de Cinema Augusta, Frei Caneca e Pompeia
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo

 

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