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28/09/2012 - 06h24

Crítica: Filme decente patina quando se obriga a cumprir convenções

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INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Antes de mais nada, "Boca" é um filme decente. Entenda-se: concebido não como um negócio, uma oportunidade, mas movido pelo desejo do diretor Flavio Frederico de narrar uma determinada história, de deter-se sobre um personagem que o marcou.

Monstro da Boca do Lixo chega às telas

Além disso, o personagem, Hiroito Joanides, é um mito paulistano. Não só um dos chefes da Boca do Lixo entre 1950 e 1960, mas um bandido singular, um tanto intelectualizado, filho de uma família classe média, enfim: alguém que optou pelo crime e não que foi levado a ele.

Existe, então, um mistério Hiroito, e a proposta do filme consiste, em parte, em responder à questão sobre quem foi, afinal, esse homem. Passemos pelas virtudes complementares: bons atores, reconstituição de época aplicada etc.

Aí começam os problemas, que também não são poucos. Um deles: "Boca" começa muito melhor do que termina, isto é, promete muito mais do que cumpre.

A atração do adolescente por prostitutas, a entrada na idade adulta como rapaz de temperamento forte e destemperado, a acusação de parricídio, a ascensão no meio criminal paulistano etc.

Tudo isso é narrado limpamente, de maneira a nos introduzir ao protagonista e a seu meio. E depois? Casamento, atritos e alianças na Boca, ampliação dos negócios, o envolvimento com drogas.

Resumindo: o que "Boca" tinha a dizer de essencial sobre Hiroito está dito em meia hora. Depois o filme patina.

O que ocorre que freia tão claramente a evolução? Penso que a necessidade de cumprir certas convenções (tiroteios, brigas, traição, gente cheirando pó) faz parte disso.

Ao mesmo tempo, o filme perde o foco do protagonista.Quem seria ele? Um revoltado baudelairiano? Um destemperado, incapaz de conter ímpetos de violência? Um infeliz dominador que passa a ser dominado pelas drogas?

Eis aí uma questão: no fundo, Hiroito não é tão interessante. É o seu ambiente, a época, que confirmam o mito. Esse ambiente é, aos poucos, tornado pano de fundo.

Outra (e maior) questão: embora aborde a corrupção policial, "Boca" se fixa no pequeno banditismo e ignora seu entorno -a São Paulo que, naqueles dias, comprometia-se febrilmente com o golpe militar que poria fim, entre outras coisas, aos pequenos feudos criminais, "românticos", como a Boca do Lixo em favor de um banditismo, aí sim, profissional.

BOCA
DIREÇÃO Flavio Frederico
PRODUÇÃO Brasil, 2010
ONDE Kinoplex Itaim e circuito
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO regular

 

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