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Análise: Antonioni extrapolou território da cinefilia
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CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Hoje, quando se comemora o centenário de nascimento do cineasta italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007), a melhor maneira de homenageá-lo talvez seja reproduzir uma indagação usada como manchete por um site italiano na semana passada: "Antonioni está morto?".
Em Ferrara, cidade natal do diretor, o evento "Zoom Antonioni" inaugura hoje um extenso conjunto de homenagens que demonstram a repercussão de uma obra que extrapolou o território restrito da cinefilia.
Ao longo dos próximos meses, a cidade sedia uma série de atividades, de espetáculos multimídia a seminários com especialistas, de publicações à retrospectiva de todos os documentários e ficções dirigidos por Antonioni entre 1947 e 2004.
O italiano foi indicado ao Oscar de melhor diretor por "Blow Up - Depois Daquele Beijo", mas só recebeu uma estatueta honorária em 1995. Ele ganhou a Palma de Ouro em Cannes pelo mesmo filme, em 1967.
Para os mais fetichistas, o tesouro será mostrado hoje numa sessão de "O Passageiro - Profissão Repórter" com uma cópia pertencente ao acervo pessoal do cineasta.
O ápice das comemorações acontece de março a junho de 2013, com a mostra "O Olhar de Michelangelo. Antonioni e as Artes", que terá curadoria do crítico francês Dominique Païni.
Na exposição, as conexões explícitas ou veladas entre os filmes do diretor e a produção do pós-guerra nas artes plásticas, literatura, fotografia e arquitetura serão postas em evidência.
Resta saber se revisitar o conjunto de rupturas que deram distinção à obra de Michelangelo Antonioni ou escutar o diálogo de seus trabalhos com as outras artes não o condenarão à maldição retrospectiva, a ser venerado como relíquia de um tempo cujos valores foram ultrapassados pela voracidade do entretenimento.
O recuo estético dado pelo cinema nas últimas décadas impede ver com clareza as inovações estilísticas trazidas pela geração de cineastas à qual Antonioni pertence.
Contudo, enquanto parte da inventividade daquela época foi renegada sob a acusação de formalismo ou experimentalismo, a expansão dos limites do cinema foi conseguida graças à diversidade de propostas introduzidas por artistas como ele.
A representação abstrata, com ações rarefeitas e proliferação de tempos mortos, foi, nos filmes do cineasta, recurso de estilo capaz de revelar o descompasso entre sucesso material e frustração subjetiva, sintomas do mal-estar da época.
Como definiu o diretor Martin Scorsese ao rememorar o impacto de quando assistiu à "A Aventura", "Antonioni materializou uma coisa extraordinária: a dor de simplesmente viver. E o mistério".
Em vez de restritas à época, no entanto, essas opções de estilo vicejaram e se tornaram essenciais ao cinema contemporâneo, pelo menos aquele que se esforça para mostrar o que sentimos.
Carolina Daffara/Editoria de Arte | ||
CRISE EXISTENCIAL Dez filmes essenciais de Antonioni |
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