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20/10/2012 - 04h37

Crítica: Personagem ambíguo é trunfo de narrativa instigante de Mantel

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MARGARET ATWOOD
DO "GUARDIAN"

Ah, esses Tudors! Será que nunca vamos nos cansar das prisões, torturas, eviscerações, execuções pelo fogo?

Tenho um fraco pelos Tudors, por isso devorei "Wolf Hall", de Hilary Mantel (primeiro livro da trilogia sobre Thomas Cromwell), de uma vez. "Bring Up the Bodies" ["que venham os cadáveres"] retoma os restos mortais onde "Wolf Hall" os deixou.

É verão. Henrique 8º e sua corte estão em Wolf Hall, a residência dos Seymour, onde Henrique está de olho na dura e pudica Jane, destinada a ser sua próxima rainha.

Cromwell treina seus falcões, que têm os nomes de suas filhas mortas. "Suas filhas estão caindo do céu", começa Mantel, fazendo-nos mergulhar na mente labiríntica do conselheiro.
Cromwell é uma figura histórica opaca; provavelmente por isso Mantel se interessa por ele: quanto menos sabe o romancista, mais espaço tem.

Não importa o que tenham feito, os Tudors levaram a paz à Inglaterra, e é para a paz que Cromwell trabalha.

Luke MacGregor/Reuters
Hilary Mantel ao receber o Man Booker Prize, principal láurea literária do Reino Unido
Hilary Mantel ao receber o Man Booker Prize, principal láurea literária do Reino Unido

A paz depende de um rei estável, e, nesse quesito, o trabalho de Cromwell é árduo. Quando o livro começa, Henrique já está começando a perder viço, inchar e babar; sua paranoia é crescente. Cromwell vê isso com clareza.

O ambíguo Cromwell é um personagem bem adequado aos pontos fortes de Mantel: a autora nunca se interessou por pessoas doces.

Muitos espreitam na corte de Henrique; todos querem lucrar algo ou evitar ser executados, e ajudar o leitor a não perder essas pessoas de vista requer habilidade.
E a ficção histórica encerra muitas outras armadilhas.

Por exemplo: como as pessoas devem falar? A dicção do século 16 não caberia, mas gírias modernas tampouco.

Mantel opta pelo inglês padrão, com ocasionais piadas sujas, e adere à narração no presente na maior parte do tempo, o que nos mantém ao lado de Cromwell enquanto se desenrolam suas maquinações (e as de Mantel).

Em alguns momentos, Mantel dá informações em excesso, mas ela é hábil e verbalmente destra.

Lemos ficção histórica pela mesma razão pela qual não deixamos de assistir a "Hamlet": o que interessa não é o quê, mas como. E, embora já conheçamos a trama, os personagens não a conhecem.

Mantel deixa Cromwell num momento aparentemente seguro; a Inglaterra terá paz. Na realidade, porém, Cromwell está na corda bamba, com seus inimigos se reunindo nos bastidores.

O livro termina do mesmo modo que começou: com penas ensanguentadas.

Mas seu fim não é um final. "Não existem finais", diz Mantel. "Todos são inícios. Este é um início."

Que nos levará ao derradeiro capítulo. Quanto trabalho braçal será preciso para "desentocar" Cromwell? Aguarde para ver, leitor.


Tradução de CLARA ALLAIN

BRING UP THE BODIES
AUTORA Hilary Mantel
EDITORA Henry Holt and Co.
QUANTO cerca de R$ 28 (no site amazon.com)

 

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