Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
08/11/2012 - 05h19

Zé Celso monta metáfora da crise capitalista

Publicidade

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O palco do Teatro Oficina transforma-se numa pista de pouso em "Acordes", espetáculo musical de Zé Celso Martinez cuja estreia acontece amanhã. É nela que um avião, símbolo do progresso, irá se destruir após uma queda. E é a partir dela que novos voos existenciais decolarão.

Em espetáculo, público ganha o papel de coral

"O avião que cai é a ordem capitalista em decadência. Com ele surgem valores diferentes e a possibilidade de novos voos, iniciando o caminho para a construção de um outro mundo. A revolução está em nós mesmos, na capacidade e no trabalho de cada um", afirma Martinez.

O espetáculo é uma adaptação de "A Peça Didática de Baden-Baden sobre o Acordo", obra de 1929 de Bertolt Brecht emblemática na trajetória da trupe de Zé Celso.

O grupo há mais de quatro décadas se dedica a fazer do teatro uma arte que busca desestabilizar o sistema vigente, na qual tanto os atores quanto o espectador participam ativamente.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Cena da montagem de "Acordes", espetáculo musical dirigido por Zé Celso Martinez
Cena da montagem de "Acordes", espetáculo musical dirigido por Zé Celso Martinez

Havia quase 30 anos que Zé Celso não revisitava Brecht. Fundador do coletivo Berliner Ensemble, o dramaturgo e diretor alemão é uma das grandes influências do Oficina. São dele peças que marcaram a história da companhia, como "Galileu Galilei" e "Na Selva das Cidades", montadas nos anos 1960.

A primeira estreou no dia em que foi decretado o AI-5, que deu ao regime militar poderes absolutos.

TRANSFORMAÇÃO

O Oficina estuda "A Peça Didática de Baden-Baden..." desde o início dos anos 1980. Fez ao longo do tempo diversas leituras da obra.

Baseando-se nela, redigiu o Estatuto de Fundação da Associação de Artistas Teatro Oficina Uzyna Uzona, em 1984. "Somos guiados por essa peça", define Martinez.

O estatuto entra em cena. O artigo 29 do documento é projetado numa tela, revelando a "lei fundamental do grupo": a transformação.

O enredo tem o mesmo mote. "Acordes" narra a história de quatro aviadores acidentados que pedem ajuda ao coro da multidão, formado pelo próprio público.

O primeiro impulso, instintivo, é o de oferecer água e travesseiro às vítimas. Em seguida, o coro se pergunta: "Eles ajudaram vocês?". O auxílio acaba então sendo negado.

Diversas imagens de tortura e guerra são estampadas num telão, que recebe também projeções de trechos do espetáculo captados ao vivo.

"Um de nós, do velho continente, atravessou o mar. Encontrou muitos de nós e o novo continente. Outros, muitos outros vieram e construíram grandes cidades à força de muito suor e de muita cabeça. Nem por isso o pão ficou mais barato", entoa o elenco de 20 atores, acompanhados por música ao vivo.

Zé Celso, entre outros artistas, recriou as composições da obra original, auxiliado pelos diretores musicais do espetáculo, Felipe Botelho e Montorfano.

"Vivemos uma epidemia de violência e miséria, numa época em que não se sabe mais o que é uma pessoa, só quanto custa. Vivemos tempos de guerra", diz Martinez.

O coro propõe a certa altura a construção de um novo avião.

Ao longo da peça, essa nova estrutura atravessa a pista do Teatro Oficina e as ruínas do terreno que abraça o prédio, as quais simbolizam os destroços da sociedade atual.

É de lá que a nova viagem irá partir. "O novo voo é o renascimento. Para nos transformarmos, é preciso morrer", reflete o diretor.

ACORDES
QUANDO sexta (9) e sáb., às 21h; dom., às 20h; 21 e 22/12, às 21h; 23/12, às 14h30; até 23/12
ONDE Teatro Oficina (r. Jaceguai, 520; tel.: 0/xx/11/3106-2818)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página