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Zé Celso monta metáfora da crise capitalista
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GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O palco do Teatro Oficina transforma-se numa pista de pouso em "Acordes", espetáculo musical de Zé Celso Martinez cuja estreia acontece amanhã. É nela que um avião, símbolo do progresso, irá se destruir após uma queda. E é a partir dela que novos voos existenciais decolarão.
Em espetáculo, público ganha o papel de coral
"O avião que cai é a ordem capitalista em decadência. Com ele surgem valores diferentes e a possibilidade de novos voos, iniciando o caminho para a construção de um outro mundo. A revolução está em nós mesmos, na capacidade e no trabalho de cada um", afirma Martinez.
O espetáculo é uma adaptação de "A Peça Didática de Baden-Baden sobre o Acordo", obra de 1929 de Bertolt Brecht emblemática na trajetória da trupe de Zé Celso.
O grupo há mais de quatro décadas se dedica a fazer do teatro uma arte que busca desestabilizar o sistema vigente, na qual tanto os atores quanto o espectador participam ativamente.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Cena da montagem de "Acordes", espetáculo musical dirigido por Zé Celso Martinez |
Havia quase 30 anos que Zé Celso não revisitava Brecht. Fundador do coletivo Berliner Ensemble, o dramaturgo e diretor alemão é uma das grandes influências do Oficina. São dele peças que marcaram a história da companhia, como "Galileu Galilei" e "Na Selva das Cidades", montadas nos anos 1960.
A primeira estreou no dia em que foi decretado o AI-5, que deu ao regime militar poderes absolutos.
TRANSFORMAÇÃO
O Oficina estuda "A Peça Didática de Baden-Baden..." desde o início dos anos 1980. Fez ao longo do tempo diversas leituras da obra.
Baseando-se nela, redigiu o Estatuto de Fundação da Associação de Artistas Teatro Oficina Uzyna Uzona, em 1984. "Somos guiados por essa peça", define Martinez.
O estatuto entra em cena. O artigo 29 do documento é projetado numa tela, revelando a "lei fundamental do grupo": a transformação.
O enredo tem o mesmo mote. "Acordes" narra a história de quatro aviadores acidentados que pedem ajuda ao coro da multidão, formado pelo próprio público.
O primeiro impulso, instintivo, é o de oferecer água e travesseiro às vítimas. Em seguida, o coro se pergunta: "Eles ajudaram vocês?". O auxílio acaba então sendo negado.
Diversas imagens de tortura e guerra são estampadas num telão, que recebe também projeções de trechos do espetáculo captados ao vivo.
"Um de nós, do velho continente, atravessou o mar. Encontrou muitos de nós e o novo continente. Outros, muitos outros vieram e construíram grandes cidades à força de muito suor e de muita cabeça. Nem por isso o pão ficou mais barato", entoa o elenco de 20 atores, acompanhados por música ao vivo.
Zé Celso, entre outros artistas, recriou as composições da obra original, auxiliado pelos diretores musicais do espetáculo, Felipe Botelho e Montorfano.
"Vivemos uma epidemia de violência e miséria, numa época em que não se sabe mais o que é uma pessoa, só quanto custa. Vivemos tempos de guerra", diz Martinez.
O coro propõe a certa altura a construção de um novo avião.
Ao longo da peça, essa nova estrutura atravessa a pista do Teatro Oficina e as ruínas do terreno que abraça o prédio, as quais simbolizam os destroços da sociedade atual.
É de lá que a nova viagem irá partir. "O novo voo é o renascimento. Para nos transformarmos, é preciso morrer", reflete o diretor.
ACORDES
QUANDO sexta (9) e sáb., às 21h; dom., às 20h; 21 e 22/12, às 21h; 23/12, às 14h30; até 23/12
ONDE Teatro Oficina (r. Jaceguai, 520; tel.: 0/xx/11/3106-2818)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
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