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06/12/2012 - 03h50

Nos anos 1940, Niemeyer integrou grupo de intelectuais que aderiu ao Partido Comunista

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JACOB GORENDER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em maio de 1945, terminava a Segunda Guerra Mundial com a rendição da Alemanha nazista. Vencedora do conflito, a União Soviética tinha prestígio imenso. Na mesma proporção, o prestígio da ideologia comunista.

Artistas e arquitetos exaltam importância de Niemeyer
Maior artista do país, Niemeyer fez a arquitetura brasileira ser pop
"A vida é mais importante do que a arquitetura", escreveu Oscar Niemeyer

Tal conjuntura repercutiu fortemente no cenário brasileiro. O regime político vigente permanecia o Estado Novo, inspirado no equivalente salazarista fascistoide de Portugal e Getúlio Vargas continuava instalado no Catete na condição de ditador.

Mas, em 1942, pressionado pelo presidente Franklin Roosevelt, Vargas revelou suficiente flexibilidade política para jogar fora suas simpatias nazilófilas e se enfileirar com as Nações Aliadas.

Confirmando a reviravolta, patrocinou a organização de uma FEB (Força Expedicionária Brasileira), que combateu na Itália, no final do conflito mundial.

A mudança radical levou, já em maio de 1945, à anistia dos presos políticos. Após nove anos de encarceramento no Rio, Luiz Carlos Prestes ganhava a liberdade, com a glória nas alturas.

Do confinamento na Ilha Grande, saíam Carlos Marighella, Agildo Barata e numerosos outros comunistas.

Pela primeira vez na sua trajetória histórica, o Partido Comunista do Brasil (a partir de 1961, Partido Comunista Brasileiro) tornou-se organização política legalizada.

A influência do PCB era notável entre os intelectuais.

Assim que se mostrou à luz do dia, alcançou adesão de artistas, vários de primeiríssima linha, como Oscar Niemeyer, Candido Portinari, Caio Prado Jr., Graciliano Ramos, Jorge Amado, Álvaro Moreyra e Clóvis Graciano.

Niemeyer foi inabalavelmente comunista por mais de seis décadas. Sob este aspecto, recorrerei a dois testemunhos pessoais.

No final dos anos 1950, eu fazia conferências e palestras, em recintos universitários, sobre a questão das relações entre marxismo e humanismo, tema então em voga. Fiz exposições e enfrentei debates em numerosas cidades, de Recife a Porto Alegre.

Um grupo de comunistas, que trabalhava em Brasília, interessou-se em me ouvir. Estávamos em 1960, a cidade se encontrava já construída, porém ainda não ocorrera a transferência da capital da República, sediada no Rio.

Os comunistas de Brasília tinham a liderança de meu amigo Geraldo Campos, que, em 1986, seria deputado constituinte. Aceitei o convite, tomei o avião e, chegando à cidade, deslumbrante por sua arquitetura, fiz duas conferências, em dias seguidos.

Ouviram-me uns 20 e tantos companheiros, entre funcionários administrativos e simples operários. Um dos ouvintes era Niemeyer. Assistiu atentamente às duas conferências, sem fazer perguntas ou comentários.

PASSEIO COM NIEMEYER

Numa hora de folga, convidou-me para um passeio pelo chamado Eixo Monumental. Percorremos o centro da cidade, onde se localizariam lojas comerciais, atravessamos a Esplanada dos Ministérios e nos dirigimos ao Palácio da Alvorada.

Não conseguimos chegar até lá. O palácio e o seu entorno já estavam guarnecidos por soldados do Exército.

Mas tivemos acesso ao Palácio do Planalto. Subimos a rampa e percorremos vários dos recintos, inteiramente vazios, nem mobiliados.

Niemeyer mostrou-me a sala que o presidente da República ocuparia. Assim, graças a este episódio casual, tive o privilégio de chegar, como simples visitante, ao centro espacial do poder republicano, antes de qualquer um dos presidentes.

Revi Niemeyer anos depois, em 1998, nas eleições presidenciais. Pela segunda vez, Luiz Inácio Lula da Silva enfrentava Fernando Henrique Cardoso, que venceria e teria um segundo mandato.

Fui convidado a um ato eleitoral em São Paulo. Diante do público numeroso, estavam à mesa personalidades como Leonel Brizola, a então deputada federal Marta Suplicy e Oscar Niemeyer.

Apesar da aversão a viagens de avião e, já nonagenário, com dificuldade de locomoção, Niemeyer não faltou à consciência de comunista. O artista de renome reforçou com sua presença a candidatura do metalúrgico Lula.

JACOB GORENDER é jornalista e historiador, autor de "Combate nas Trevas" e "O Escravismo Colonial"

 

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