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06/12/2012 - 04h00

São Paulo ganhou de Niemeyer alguns de seus poucos cartões-postais

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RAUL JUSTE LORES
DE NOVA YORK

Se São Paulo fosse mais conhecida internacionalmente, o Copan já se teria transformado em um dos grandes ícones globais da arquitetura do século 20.

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Mesmo com menos obras do arquiteto que Brasília ou Belo Horizonte, São Paulo ganhou dele alguns de seus poucos cartões-postais.

Não há visitante viajado e sofisticado que não fique de queixo caído com as rampas sinuosas e livres do prédio da Bienal, que nascem como galhos de um poderoso tronco.

Ou com a Oca, com suas paredes espessas e cúpula que convida os mais arriscados a subirem por fora. A marquise do Ibirapuera é uma praça coberta incomum, tentacular, que abriga skatistas e patinadores com rara generosidade em São Paulo.

Foi nos anos 1950 que Niemeyer construiu mais prédios em São Paulo, tanto os do parque Ibirapuera, quanto uma série de edifícios residenciais e comerciais no centro da cidade, a convite de seu amigo Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), publisher da Folha, que então possuía um banco que financiava construções.

Até hoje é incomum que o mercado imobiliário recorra a arquitetos para fazer suas obras -os tais prédios, desenhados em parceria com o arquiteto Carlos Lemos, são uma raridade na obra de Niemeyer e foram feitos em longas jornadas noite adentro, passadas em São Paulo.

Dessa colaboração, saíram, além do Copan, os edifícios Eiffel, na praça da República, Califórnia, na Barão de Itapetininga, Triângulo, na José Bonifácio, Montreal, na esquina das avenidas Ipiranga e Cásper Líbero, e Seguradoras, na avenida São João, perto do Anhangabaú.

Em alguns deles, convidou artistas como Di Cavalcanti e Portinari para desenharem murais decorativos no interior. São obras do arquiteto pouco conhecidas, mas infinitamente superiores à qualidade dos prédios vizinhos (algo comum por onde Niemeyer deixou seu legado).

Como acontece a qualquer artista tão longevo, São Paulo também presenciou momentos menos inspirados, como o Memorial da América Latina, prova de que os anos 1980 não foram desajeitados só na moda e na música.

Mas arquitetura nasce do diálogo entre o criador e o cliente -e até hoje ninguém sabe muito bem o que fazer com o Memorial.

Nos últimos anos, com visão e coordenação reduzidas, Niemeyer geriu obras menores, mas uma das melhores de sua última fase está em São Paulo, o auditório Ibirapuera, releitura de um projeto engavetado desde os anos 1950.

O grande bloco branco com planta em trapézio e corte triangular comprova que, quando bem assessorado e com construção caprichada, Niemeyer faz um prédio que não envelhece.

E o Copan, a maciça onda de concreto, imponente e leve ao mesmo tempo, consegue ser até hoje um raro momento da arquitetura paulistana sem muros ou grades, que mistura comércio e apartamentos e permite o convívio de diferentes classes sociais --algo pensado desde a prancheta.

Mais de 50 anos depois de desenhado, com a rara exceção do Conjunto Nacional, na Paulista, ainda estamos longe de ter qualquer coisa no nível do Copan. A genialidade pode ser muito solitária.

 

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