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07/12/2012 - 08h02

'Ele foi um mágico do traço', diz britânico Norman Foster sobre Niemeyer

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BERNARDO MELLO FRANCO
DE LONDRES

Um mágico do traço. Assim o britânico Norman Foster, um dos arquitetos mais celebrados da atualidade, descreveu ontem o brasileiro Oscar Niemeyer.

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Ele se emocionou ao lembrar o único encontro com o mestre, no ano passado, quando fez um tour para conhecer suas obras em várias cidades brasileiras.

A que mais o tocou, revela agora, foi o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência em Brasília.

Foster falou à Folha por telefone de Düsseldorf, na Alemanha, onde receberia um prêmio ontem à noite.

Aos 77 anos, ele é autor de projetos como a cúpula do Reichstag, em Berlim, o City Hall e o novo estádio de Wembley, em Londres.

Assim como Niemeyer, recebeu o prestigioso prêmio Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura mundial.

No Reino Unido, ele é chamado pelo título de lorde, honraria recebida da rainha Elizabeth 2ª pelo conjunto de sua obra.

No mês passado, o escritório de Foster apresentou o croqui de um arranha-céu a ser construído na zona portuária do Rio. Ele não quis se estender sobre o projeto. "É importante deixar que a obra fale por si", disse.

Rafael Andrade/Folhapress
Norman Foster com Oscar Niemeyer em entrevista para documentário, no Rio
Norman Foster com Oscar Niemeyer em entrevista para documentário, no Rio

*

Folha - Qual a importância de Oscar Niemeyer para a arquitetura mundial?
Norman Foster - Ele deixa um legado extraordinário. Não só pela beleza excepcional dos prédios que desenhou, mas por toda a filosofia por trás deles. A leveza de sua obra ainda vai inspirar muitas gerações de arquitetos nas próximas décadas.

No Brasil, os prédios públicos e os museus que ele criou são usados por milhares de pessoas todos os dias.

Mesmo que não entenda nada de arquitetura, qualquer um que circule ou trabalhe nesses prédios sabe que é um privilégio o fato de simplesmente poder estar ali.

Suas construções de Brasília quase não tocam o chão, parecem estar flutuando no espaço. É incrível.

No Museu de Arte Contemporânea [o MAC, em Niterói], a experiência de subir aquelas rampas é como dançar no espaço. A cada momento, você é convidado a ver o prédio de uma forma diferente, antes mesmo de entrar nele. Ele fazia mágica.

Como o sr. o situa no panorama da arquitetura moderna?
O modernismo teve muitos mestres, como Frank Lloyd Wright e Le Corbusier. Com Niemeyer, a manifestação dessa arquitetura foi algo diferente de todo o resto. Ele era único. Tinha um talento espetacular para desenhar construções como se estivesse fazendo esculturas.

Além disso, ele soube usar muito bem as características dos locais onde as obras foram erguidas.

Ele tinha muita identidade com o Brasil. Suas construções dizem muito sobre o país, o estilo e o temperamento dos brasileiros.

Também é impressionante ver a forma como conseguiu integrar seu trabalho ao que havia de melhor na arte, seja na pintura, na escultura ou no paisagismo.

O sr. já disse que ele influenciou a sua decisão de se tornar arquiteto. Como isso ocorreu?
Niemeyer sempre foi uma fonte de inspiração para mim. O impacto da obra dele me tocou antes mesmo que eu começasse a estudar arquitetura. E me influenciou muito a tomar essa decisão.

Como foi seu encontro com ele no ano passado?
Pouca gente tem a chance de conhecer seus heróis. Eu tive esse privilégio, no Rio, e sou muito grato por isso.

Tivemos uma conversa muito interessante. Ele estava bastante animado com sua nova revista ["Nosso Caminho", lançada em 2008] e me convidou para colaborar com ela um dia.

Conversamos sobre o Brasil, a construção de Brasília, a vida. A linda arquitetura dele foi só um dos assuntos.

Embora dissesse que a arquitetura não importava, e sim a vida, ele tinha uma paixão fortíssima pelo seu trabalho. É incrível que tenha mantido tanto entusiasmo e tanta criatividade até o fim.

O sr. fez um tour pelo Brasil para ver de perto as suas obras. Como foi a experiência?
Foi uma grande descoberta para mim. As fotos mostram muita coisa, mas a arquitetura também depende de sentidos e sensações que não se limitam às duas dimensões de uma imagem impressa.

Existe o senso de espaço, existe a luz. Quando você está lá, os prédios de Niemeyer o convidam a entrar.

O sr. visitou obras dele no Rio, em Niterói, Belo Horizonte, Brasília... Qual foi a favorita?
O Palácio da Alvorada. Tive o prazer de visitá-lo por dentro e por fora. É uma obra absolutamente impressionante. Além daquelas colunas fantásticas, ele conseguiu uma integração extraordinária com o mobiliário, a tapeçaria, as obras de arte.

Ver o casamento disso tudo é de tirar o fôlego.

O sr. é um dos arquitetos mais importantes da pós-modernidade. Consegue identificar traços da influência de Niemeyer em sua obra?
Todos nós somos passíveis de influências, sejam subliminares ou não. Fazemos muita coisa a partir da nossa cabeça, mas o background sempre estará lá.

Eu certamente sofri influências dele. Mas acho impossível descrever isso de uma forma muito específica.

Apesar do reconhecimento internacional, Niemeyer também foi alvo de críticas porque sua arquitetura, em alguns casos, seria mais bonita do que funcional. O sr. concorda?
A imperfeição é da natureza humana. Quem se arrisca para inovar sempre poderá se tornar alvo de críticas.

Mas são as mudanças que escrevem a história da arquitetura. Críticas são sempre legítimas, mas este é um momento de celebrar a obra de Niemeyer.

 

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