Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
01/01/2013 - 03h00

Crítica: Diretor conecta reflexão social a clima de suspense e humor sutil

Publicidade

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

"O Som ao Redor" começa com a projeção de uma série de fotografias antigas de engenhos de açúcar.

Em seguida, há um plano-sequência que acompanha um garoto de bicicleta puxando uma menina de skate dentro de um prédio do Recife, passeio que termina em uma quadra esportiva onde crianças brincam vigiadas por babás e cercadas por muros altos.

Victor Juca/Divulgação
Cena do filme "O Som ao Redor", do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho
Cena do filme "O Som ao Redor", do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho

São necessários apenas cinco minutos para entender que, em seu primeiro longa de ficção, o cineasta Kleber Mendonça Filho quer matar a cobra e mostrar o pau.

Ao longo das duas horas seguintes, ele irá demonstrar que aquele momento de lazer entre muros -que denota tanto a divisão de classes quanto o medo da violência do Brasil do século 21- descende da separação entre casa grande e senzala e da lógica latifundiária dos engenhos do século 19.

Mas não espere uma tese acadêmica, didática e explanativa. "O Som ao Redor" é um sofisticado quebra-cabeças cinematográfico.

Uma das peças fundamentais é um ex-senhor de engenho dono de quase todos os imóveis de um bairro do Recife (W.J. Solha), a outra é um segurança particular que oferece seus serviços naquele local (Irandhir Santos).

Mas há também um neto do ex-senhor de engenho que cuida de seus negócios (Gustavo Jahn) e outro que rouba carros por hobby (Yuri Holanda), uma mulher que surta com os latidos de um cachorro e transa com sua máquina de lavar roupa (Maeve Jinkings).

Ao montar seu mosaico sobre a paranoia de segurança à brasileira, Kleber trabalha com uma dupla ética. De um lado, não facilitar a vida do público, deixando que ele monte sozinho o quebra-cabeças e só compreenda a imagem formada no encaixe da última peça.

Do outro, jamais entediar o espectador, produzindo obra em que a reflexão sobre a realidade esteja sempre conectada a um clima de suspense permanente, de humor sutil, de tragédia inevitável.

Kleber maneja com total segurança as ferramentas visuais e sonoras que o cinema oferece: da tela panorâmica do Cinemascope até uma edição de som que privilegia os ruídos fora de campo.

O ímpeto de usar todas as armas à disposição somado à maturidade para manejá-las tornam "O Som ao Redor" uma experiência rara no cinema brasileiro recente.

O SOM AO REDOR
DIREÇÃO Kleber Mendonça Filho
PRODUÇÃO Brasil, 2012
QUANDO estreia na sexta, 4/1
ONDE Espaço Itaú de Cinema 3, Lumière 1 e circuito
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO ótimo

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página