Crítica: Werner Herzog usa 3D para aprofundar experiência de contato com o passado

A primeira questão de "A Caverna dos Sonhos Esquecidos" diz respeito ao processo adotado por Werner Herzog: seria mesmo preciso o 3D para dar conta das belezas da caverna de Chauvet, na França, sítio arqueológico onde foram encontrados desenhos com cerca de 30 mil anos.

De cara existe um mergulho no abismo, mas não o do 3D. O do homem, antes: o que nós somos e o que nós fomos -eis a questão que, todo o tempo, frequentará o filme.

Embora as condições de filmagem estivessem longe do ideal, esse quê encantatório estará presente todo o tempo.

Assim como a pergunta: será que o que vemos compensa o desconforto dos óculos 3D? Será que não veríamos as mesmas coisas com a velha e boa perspectiva? Ou quase as mesmas, já que, no exterior da caverna, a paisagem circundante ostenta aquele ar de sutil falsidade, de coisa que não vemos com os nossos olhos, que os filmes em 3D costumam nos mostrar.

	Divulgação
	Cena do filme "Caverna dos Sonhos Esquecidos", de Werner Herzog

A resposta em princípio é: sim, compensa. Pela simples razão de que a visita a Chauvet é uma experiência do olhar, assim como o 3D. Ambos, de certo modo, comportam uma aventura. O olhar se projeta no tempo: do mais primitivo ao mais contemporâneo.

O que mudou no homem? Pois os desenhos da caverna, longe de serem traços primários, nos trazem uma beleza reconhecível, remetem ao traçado de obras bem século 20.

O que terá sido então, efetivamente, a evolução da espécie nesse tempo? Como viviam nossos ancestrais? Eis perguntas que etnólogos e arqueólogos buscam responder com os meios de que dispõem.

Com um pouco de experiência no ramo (cinematográfico), o espectador sabe que não há respostas a esperar de Herzog: o homem, a natureza, a existência são mistérios que cada evento, cada descoberta apenas reforça --não somos seres de resposta, mas sim de questões. A vida é mergulhar nesse mistério. E a caverna, em todos os sentidos, é um magnífico pretexto.

CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS
DIREÇÃO Werner Herzog
PRODUÇÃO Canadá/ EUA/ Alemanha/ França/ Reino Unido, 2010
ONDE CineSesc
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom