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Crítica: Coletânea resgata Álvaro Lins, autor ignorado pelo cânone
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RODRIGO GURGEL
ESPECIAL PARA A FOLHA
A injustiça que a crítica literária e a universidade cometem, há décadas, contra o pernambucano Álvaro Lins começa a ser refutada com a publicação de "Álvaro Lins - Sobre Crítica e Críticos" (org. de Eduardo Cesar Maia, Companhia Editora de Pernambuco).
Não há grandiloquência na afirmação acima. Alvo dos clichês que substituem a verdade --é sempre mais cômodo repetir o senso comum ou extrair de um longo ensaio a frase impactante--, Lins foi esquecido no limbo em que vagam os críticos desobedientes às cartilhas do marxismo e do estruturalismo.
Arbitrariedade, aliás, contraditória, pois ele era chamado, em 1962, de "clérigo da esquerda" --epíteto que surge em uma das epígrafes da sétima série do seu "Jornal de Crítica".
Divulgação | ||
O crítico literário Álvaro Lins observando a vista da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro |
DIGNIDADE DA CRÍTICA
A coletânea organizada por Maia reúne, de 1940 a 1963, reflexões sobre os objetivos e o papel da crítica literária, incluindo avaliações de críticos que influenciaram Lins ou foram seus contemporâneos, como José Veríssimo, Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso Lima), Augusto Meyer, Otto Maria Carpeaux e outros.
Publicados em ordem cronológica, os textos mostram a transformação do crítico, de católico a cético e materialista, mas imutável na defesa da independência da literatura, que ele entendia como "gnose", um dos meios para autores e leitores conhecerem o homem e a realidade.
Sua visão de que a crítica literária "não é só apreciação ou julgamento no plano subjetivo" e "não pode se fechar nos limites de um seco objetivismo, não pode ser uma prisioneira das leis e dos conceitos de outras ciências" também permaneceu inalterada.
Segundo Lins, "um simples objetivismo não teria forças para criar mais do que uma figura de erudito. Um simples subjetivismo, por sua vez, não teria forças para criar mais do que uma figura de divagador".
Se ainda vivesse, veria, com desagrado, que muitos dos supostos objetivistas de agora conduziram a crítica literária de volta ao que ele mais criticava nos subjetivistas de sua época: o "desembestado verbalismo".
Em 1957, apontava as "estreitezas e friezas" da "nova retórica" utilizada pelos adeptos do "new criticism".
Otimista em relação às conquistas da Semana de 22, alertava para "a despreocupação da forma, da linguagem, do estilo" --o "desprezo deliberado e voluntário" de certos escritores modernistas "em face da beleza formal".
E jamais abdicou do seu "propósito invariável": o de, ao fazer crítica literária, "procurar a verdade e exprimi-la sem qualquer outro interesse que não seja o da literatura".
Para ele, "julgar é um testemunho da dignidade da crítica" --e por esse motivo é exercício que "não fica bem nas mãos dos conformistas, dos frágeis, dos frívolos".
Crítico que não se refugiava sob o verniz dos jargões, norteado pela ética e disposto ao diálogo, Álvaro Lins é o intelectual por excelência, obrigatório nos dias de hoje.
RODRIGO GURGEL é crítico literário, autor de "Muita retórica - Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha)" (ed. Vide Editorial).
SOBRE CRÍTICA E CRÍTICOS
AUTOR Álvaro Lins
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