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Crítica: Violento, "Depois de Lúcia" redefine o já gasto "bullying"
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FRANCESCA ANGIOLILLO
EDITORA-ADJUNTA DA "ILUSTRÍSSIMA"
Pela lista do funcionário da oficina, o acidente foi grave: tudo ou quase foi substituído no carro que Roberto (Hernán Mendoza) vai buscar --para logo abandonar numa avenida, na primeira das muitas omissões sobre as quais se constrói a trama de "Depois de Lúcia", segundo longa do mexicano Michel Franco.
No trajeto, vemos a nuca do motorista, as mãos no volante, o que reflete no retrovisor. Passam-se minutos até que surja na tela um rosto, o perfil de Alejandra (Tessa Ia), a filha adolescente com quem Roberto se muda da costa do Pacífico à Cidade do México.
O recorte visual das primeiras cenas e os ruídos urbanos que sublinham o mutismo quase absoluto dos personagens informam que o filme é tenso. Mais que isso: "Depois de Lúcia" é violento.
Divulgação | ||
A atriz Tessa Ia (Alejandra) em cena de "Depois de Lúcia", filme do mexicano Michel Franco |
Tudo nele remete a atos de negação. O acidente que separa antes e depois de Lúcia (a mãe e mulher morta, cujo nome, simbolicamente, jamais é dito) só é mencionado quando a burocracia assim exige. A mudança é uma fuga; a casa vazia, uma tentativa de anular as lembranças.
Muros espessos de silêncio se erguem em torno da adolescente: entre pai e filha há cumplicidade, não abertura.
Após ser inicialmente aceita pelos colegas da nova escola de classe média alta, a tímida menina comete um deslize --e por ele é moralmente julgada e torturada.
Ale tudo cala, preocupada com o estado aparentemente mais deprimido do pai. Mais que a preocupação, porém, só a culpa talvez possa explicar o inverossímil estoicismo com que suporta os suplícios que lhe impingem os colegas.
O filme de Michel Franco levou o prêmio da mostra Un Certain Regard de Cannes em 2012 --em grande parte pelo tema, central hoje. O já gasto termo "bullying" se define aqui em sua integralidade, indo do achaque moral à violência física e sexual.
A protagonista, qual uma Joana D'Arc, aceita como missão o seu martírio --que atinge o espectador, transido diante dos atos de adolescentes que parecem habitar um mundo ao qual os adultos não têm (ou não querem ter) acesso --num dos exageros do filme. Seria possível tal alheamento quanto ao que fazem alunos e filhos?
Quando o espectador já não aguenta, Franco oferece uma resolução abrupta (e violentíssima) que, se por um lado vem resolver um impasse dramatúrgico, por outro sugere a descrença do cineasta nas instituições de seu país.
Apesar dos poréns, é um filme importante; talvez seja lícito entender seu tom hiperbólico como bandeira voluntária, a urgir pais a olhar e ouvir mais seus filhos.
DEPOIS DE LÚCIA
DIREÇÃO Michel Franco
PRODUÇÃO México/França, 2012
ONDE Reserva Cultural 2 e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
+ CANAIS
+ NOTÍCIAS EM ILUSTRADA
+ Livraria
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