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Crítica: Diretora brasileira Roberta Marques estreia com filme intimista e perturbador
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ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A diretora cearense Roberta Marques não escolheu o caminho mais fácil em seu longa-metragem de estreia.
Filmado em 16 milímetros, com muita câmera na mão, vários planos-sequência e uma montagem cadenciada, "Rânia" é um drama intimista que exige do espectador uma atitude muito diferente daquela solicitada pela maioria dos filmes cuja única ambição é entreter.
O filme conta a história de Rânia (a estreante Graziela Felix), uma adolescente que vive em um bairro humilde de Fortaleza, no Ceará, ao lado da mãe costureira e de dois irmãos.
Divulgação | ||
Graziela Felix (em pé) e Nataly Rocha em cena de "Rânia" |
A garota trabalha em uma lanchonete na praia, estuda balé e sonha em ser bailarina profissional.
Sua melhor amiga é Zizi (Nataly Rocha), que é dançarina na boate Sereia da Noite e ganha algum dinheiro fazendo programas.
É ela quem leva Rânia à casa noturna, onde a jovem logo se destaca entre as dançarinas pela habilidade adquirida na prática do balé.
A partir daí, a aspiração de profissionalização é contaminada pela crescente possibilidade de Rânia se prostituir -uma referência ao turismo sexual que faz parte da realidade da capital cearense.
Roberta Marques --diretora e, ao lado de sua sobrinha Luisa Marques, responsável pelo roteiro-- apresenta essa dicotomia de maneira discreta, sem verborragia.
Com planos que privilegiam as expressões faciais e corporais da atriz, o filme abre espaço para a alusão, para o não dito, em vez de mostrar e explicar tudo.
Os dados da equação mudam quando Rânia conhece a coreógrafa Estela (Mariana Lima, de "Amor" e "A Alegria"), que seleciona bailarinos para montar uma companhia de dança que pretende levar para se apresentar em Nova York.
Mas a garota não encontra facilidade na hora de a família autorizar a viagem. O pai, um pescador obtuso cujo barco --ironicamente chamado "Hope", "esperança" em inglês-- nem quer ouvir falar do assunto.
Filmada de maneira quase austera, sem apelar para o golpe baixo do cartão-postal, Fortaleza é um cenário estático.
A pasmaceira silenciosa que se respira dia e noite na cidade contrasta com os sonhos, com a mobilidade incessante --mas sem agitação-- da protagonista. A movimentação de Rânia aponta para o desejo de transformar sua vida.
Mas o filme recusa-se a dar respostas. Privilegia o processo, mostrando ao espectador as armadilhas que vão aparecendo no caminho da protagonista, e não cômodas certezas.
Aberto, o final prolonga a perturbação que o filme instala paulatinamente no espectador.
RÂNIA
DIREÇÃO Roberta Marques
PRODUÇÃO Brasil, 2011
ONDE Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca 6 e 8
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
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+ NOTÍCIAS EM ILUSTRADA
+ Livraria
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