ILUSTRADA 50 ANOS: 1976 - Novos Baianos lutam pela sobrevivência
"Entre 70 e 72, quando a juventude parou de trabalhar, não estava a fim de nada, mas todo mundo parou para olhar, nós demos a maior força e vivemos com ela alguns lances, porque queremos tudo como é, mas também queremos a gente como a gente é".
"Vamos pro mundo" foi um disco muito atribulado, feito numa fase muito dura para os baianos. Gente querendo dividir os baianos; e a saída do Moraes funcionou como um ponto em que as pessoas se pegaram para dizer que os baianos não existiam mais... Imagine! Os baianos deixaram de existir. E a estratégia foi o disco".
Divulgação |
Capa do compacto "Novos Baianos e Baby Consuelo no Final do Juízo", de 1971 |
"Os Novos Baianos serão sempre novos. Nesse LP, 'Cala na Estrada e Perigas Ver' há 13 músicas, tanto quanto o primeiro, 'Ferro na Boneca', incluindo uma da Riroca, filha de Baby e do Pepeu, 'Porto dos Balões', depois de três anos, só pra curtir com a cara do pessoal que dizia que a gente não fazia mais música".
Todos esses desabafos são de Galvão, responsável pela direção e pelas letras que saem nos discos dos Novos Baianos, exceção feira a "Porto dos Balões", de "Riroca, uma letra que eu assinaria sem pestanejar. Considero-a minha herdeira como letrista dos baianos".
Os Novos Baianos estão reaparecendo em shows de televisão e teatro, mostrando o último LP que fizeram depois de quase três anos de pouco sucesso, que não aconteceu com "Vamos pro Mundo", "Ajunti" e "Futebol Clube".
"Caia na Estrada e Perigas Ver", nome do disco e do show que apresentaram no TUCA, "tem muito o que ver com a vida que Os Novos Baianos levam em São Paulo. E a quase crônica. Nós sentimos muito na pele tudo o que tem no disco. O motorista de caminhão, aquele para quem a família não era a preocupação central, para quem o tempo e o espaço não contam muita coisa. Os meninos esperando com uma festa para quando o pai chegar, transportando mercadoria. Não é só trabalho físico e a mostra do pára-choque do eterno. Não vejo solução pro mundo".
E Galvão continua como estivesse compondo mais uma letra para mais um som dos baianos, dizendo que "Caia na Estrada e Perigas Ver" é a própria vida, que não é nenhum caminho, só quando a gente anda. Que nesse disco eles não têm o que se perdoar, trabalharam nele durante um ano todo, até conseguiram mixar duas vezes. Que se, noutros tempos as coisas não saíam como eles queria, este ano, está tudo pelo menos perto do que pretenderam.
Nas músicas as homenagens ao motorista de caminhão, ao poeta boêmio Jeová de Carvalho, lá da Bahia, que mesmo com a costela quebrada não parou de dizer os seus poemas nos bares, que em "mais uma madrugada o poeta sai do tabaris, mais alegre que feliz".
Com esse pára-choque Jeová de Carvalho chegou mais perto dos baianos, endossando o pensamento do grupo de que "alegria não pe felicidade". E somando a sua experiência (seis meses com um caminhão na estrada), Galvão foi criando frases de pára-choques de caminhões, ajudado pelos amigos que lhe enviavam outros sempre que se lembravam.
"A mulher que andou na linha o trem matou"; "O pai achou 1/2, a mãe rezou 1/3 e vou levar ela é lá pro 1/4", são alguns dos pára-choques que aparecem em "Caia na Estrada e Perigas Ver".
Os Novos Baianos não estão preocupados em explorar o esquema de vida que traçaram para eles. São 17 pessoas sob o mesmo teto, vivendo situações comuns e individuais, mas onde o problema maior, seja do grupo, seja pessoal, é sempre o primeiro a ser resolvido. Para eles é o estilo natural. "Parece lance de turma de meninos".
Segundo Bola, responsável pela percussão e quadros teatrais que aparecem nos shows. "Os Novos Baianos são um grupo de artistas que estão voltados para a arte, os Novos Baianos estão desenvolvendo coisas que ninguém sabe como é que é. É um desprendimento natural, mas consciente, não é alienado".
Depois da desclassificação de uma música em um festival realizado pela Record, os Novos Baianos passaram muito tempo sem participar de concursos, evitando a engrenagem, querendo sozinhos ganhar a briga, não se envolver no esquema, aparecendo quando acontecia. Mas eles não "tem nada a ver com imposto de renda" e para facilitar abriram a "Novos Baianos Produções Artísticas" que vai cuidar dos interesses do grupo, assessorados pelo empresário Moracy do Val, "manager" Carlos Caramez.
Preparando-se para o carnaval com a montagem de um trio elétrico, eles participaram do concurso "Convocação Geral", da Rede Globo, saindo com as duas músicas classificadas: "O Petróleo é Nosso" e "Pra Lá de Uri Geller".
Com uma estrutura montada, os Novos Baianos querem acabar com a "imagem de quem não quer trabalhar. A barra é pesada, são 20 pessoas lutando pela sobrevivência", diz Paulinho Boca de Cantor, "mas que nunca deixaram de criar".
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