Clodovil conquistou fama na TV com talento e polêmica
Estilista, apresentador de TV e deputado federal, Clodovil Hernandes conquistou fama não apenas pelo talento na alta costura, mas também pela figura peculiar e inúmeras declarações polêmicas.
Nascido em 17 de junho de 1937 em Elisiário (402 km a noroeste de São Paulo), Hernandes não conheceu os pais biológicos e foi criado por imigrantes espanhóis que o adotaram ainda bebê. Quando criança, estudou em um colégio interno mantido por padres católicos.
Leia a cobertura completa sobre a morte de Clodovil Hernandes
Sérgio Lima - 17.jun.2008/Folha Imagem |
Clodovil Hernandes discursa no plenário da Câmara dos Deputados no dia do seu aniversário no ano passado; veja outras imagens |
Clodovil chegou a se formar professor, mas acabou se tornando estilista nos anos 60. Ele fez sucesso com suas criações de alta costura e com modelos casuais masculinos.
Já nessa época, começou a frequentar diversos programas de TV pelo comportamento ousado e pela homossexualidade assumida.
Em 1979, Clodovil participou da novela "Marron-Glacé", exibida pela Globo. A novela ainda contava com nomes como Lima Duarte, Ary Fontoura e Paulo Figueiredo no elenco.
Mas a primeira grande projeção na TV viria no início dos anos 80, quando apresentou ao lado de Marta Suplicy o programa "TV Mulher", na Rede Globo, no qual tinha um quadro de moda feminina.
Anos mais tarde, quando ele já era deputado e Marta, ex-prefeita de SP, ela se tornaria um desafeto --Clodovil batizou uma cobra que ficava na mesa de seu gabinete de Marta, em "homenagem" a ex-colega.
Depois da Globo, Clodovil passaria ainda por quase todas as TVs abertas como apresentador de programas de variedades ou voltados também para o público feminino. Em seus quadros, realçava sempre a importância de a mulher se manter elegante, independentemente da classe social.
Por onde passou, Clodovil foi protagonista de polêmicas. No programa "Mulheres", na TV Gazeta, criticou uma colega ao vivo.
Na Rede TV!, onde apresentava "A Casa É Sua", em 2004, ele chamava a atenção por passar boa parte do tempo comentando a vida de artistas e personalidades, quase sempre com palpites meio elogiosos, meio devastadores.
Clodovil deixou o programa após brigar com os humoristas do "Pânico na TV", da mesma emissora, que, além das frequentes gozações, insistiam em vão para que o apresentador participasse do quadro "Sandálias da Humildade".
Depois de ter o carro seguido na gravação do humorístico, Clodovil desabafou no ar em seu programa e, alterado, deixou o estúdio no ar. Foi demitido na semana seguinte.
Em abril de 2007, Clodovil ganhou outro programa, o "Por Excelência", na TV JB. Ele foi demitido em julho do mesmo ano.
Folha Imagem |
Clodovil em abril de 2007, quando voltou ao teatro com o espetáculo "Eu e Ela" |
O nome do programa era uma referência ao cargo de deputado federal por São Paulo --ele foi terceiro deputado mais votado do Estado em 2006.
Dias antes de tomar posse, em visita para conhecer o Congresso Nacional, foi barrado na porta porque não vestia gravata. Em entrevista, bem ao estilo pessoal, ironizou: "Será que precisamos de gravata ou de seriedade?".
Quando ainda era candidato, arriscou-se nos palcos em "Eu e Ela", sua terceira aparição no teatro. Escrito por ele, o espetáculo abordava o lado feminino de sua personalidade. Clodovil aparecia em cena de salto alto e meia-calça.
Saúde
Os problemas de saúde de Clodovil começaram a surgir em 2005, quando ele foi diagnosticado com câncer de próstata. Ele retirou o tumor em uma cirurgia e não precisou fazer tratamentos complementares.
Em 2007, Clodovil foi internado com paralisia de leve intensidade do braço direito. A paralisia foi causada por AVC hemorrágico, decorrente de hipertensão arterial.
No mesmo ano, ele foi hospitalizado duas vezes com problemas cardíacos e hipertensão arterial e outra com suspeita de dengue. Após cinco dias de internação, o parlamentar recebeu alta, mas a doença não foi diagnosticada.
Em setembro do ano passado, ele foi internado às pressas no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, com fortes dores nas costas decorrentes de uma embolia pulmonar.
O hospital Santa Lúcia, em Brasília, anunciou nesta terça-feira a morte cerebral de Clodovil, internado ontem após sofrer um AVC (acidente vascular cerebral). A informação foi dada pelo médico Cícero Henriques Dantas Neto, diretor técnico do hospital.
Hoje, às 18h50, o hospital informou que Clodovil morreu após sofrer uma parada cardíaca.
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