Padilha diz que "Garapa" mostra a fome vista por quem lida com ela
Para o jornalista Gilberto Dimenstein, "é quase um "Big Brother" da miséria". Para o cineasta José Padilha, "é a fome do ponto de vista de quem lida com ela". As classificações para "Garapa" surgiram no debate promovido na última segunda-feira (18) pela Folha e pelo Cine Bombril, após exibição do documentário, que estreia no próximo dia 29.
Divulgação |
Personagens de "Garapa", novo documentário de Padilha, que fala sobre a fome no Brasil |
O novo filme de Padilha após "Tropa de Elite" segue três famílias no Ceará que passam fome -situação em que, segundo a ONU, vivem mais de 960 milhões de pessoas no mundo.
Padilha argumentou que, apesar de o documentário não ter valor estatístico, reúne valores universais, como o fato de a mulher ser o esteio da família em situação de insegurança alimentar grave e de o alcoolismo predominar entre os homens desses grupos.
A compra de alimentos altamente calóricos e baratos, como a garapa (bebida feita de água quente e açúcar para as crianças), também se repete. ""Garapa" é um filme sobre três famílias. Porém, eu arrisco falar que, dos filmes que eu fiz, é o mais universal deles", disse.
Também participou do bate-papo com os cerca de 250 espectadores Francisco Menezes, do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), ONG criada por Betinho e que auxiliou Padilha no começo da produção, em 2005.
Para ele, o filme é fundamental para ampliar o debate sobre a fome e fazer uma revisão de como se entende o problema no Brasil. No filme, uma mulher gorda tem filhos subnutridos, embora o fato de ela estar acima do peso não a excluir da desnutrição, disse Menezes.
Para Dimenstein, membro do Conselho Editorial da Folha, o documentário em preto e branco é muito mais violento que "Tropa de Elite". "A violência desse filme me incomodou 500 vezes mais do que aquela outra violência", disse.
O diretor falou de suas escolhas para realizar a obra sem cores, sem música, sem zoom. "Esse filme é sobre a ausência", disse. "A família sente falta não só de comida. Não tem roupa, não tem remédio, não tem diversão, não tem projeto."
Padilha contou que chegou a dar remédios às famílias e levar uma criança ao dentista durante as filmagens, apesar de não ter registrado tudo. Hoje, ele e o produtor do filme, Marcos Prado, enviam dinheiro aos pais.
"Eu não podia dar comida [...], senão eu não conseguia fazer o filme que fiz. Mas eu sabia que eles não iam morrer de fome [...]. E eu sabia que no final eu ia poder ajudar."
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