"Lucy in the Sky with Diamonds" não tem relação com LSD segundo livro; leia trecho
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A partir da esquerda: Paul McCartney, John Lennon, Ringo Starr e George Harrison |
Quem foi Eleanor Rigby? E Lady Madonna? Jude? Lucy? Prudence? Onde fica Strawberry Fields? E Penny Lane? O novo livro "The Beatles: A História por Trás de Todas as Canções" explica "onde, como e porquê" e a história dos personagens por trás de todas as 208 músicas gravadas pelo grupo inglês que influenciou toda uma geração.
O autor Steve Turner teve a sorte de entrevistar John Lennon, que lhe explicou a natureza pessoal de suas canções, e Paul McCartney, que esclareceu alguns equívocos nas histórias que o autor havia apurado. O restante dos significados pesquisou em entrevistas publicadas e arquivos de jornais e bibliotecas.
Em "Lucy in the Sky with Diamonds", ao contrário das incansáveis associações às drogas --pois as iniciais das palavras formam a sigla LSD-- nasceu numa tarde de 1967, quando o filho de John, Julian, voltava da escolinha para casa com um desenho de sua colega, Lucy. Ao explicar ao pai, disse que era Lucy "no céu com diamantes".
Essa e outras histórias das 207 canções restantes podem ser conferidas no livro. A seguir, veja um trecho do prefácio e a explicação completa de "Lucy in the Sky with Diamonds":
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Divulgação |
PREFÁCIO
Este livro conta as histórias por trás das canções dos Beatles, conjunto que defini como músicas escritas e gravadas pelos Beatles. Ele trata do "onde, como e porquê" das composições e tenta rastrear o caminho da inspiração até a fonte.
Dito isso, este não é um livro sobre como as canções foram gravadas nem sobre quem tocou o quê, em qual sessão. Mark Lewisohn definitivamente já fez esse trabalho em The Complete Beatles Recording Sessions. Tampouco é um livro de análise musical profunda. Para tal abordagem, veja Twilight Of The Gods, de Wilfrid Mellers (Schirmer Books, 1973), ou The Songwriting Secrets Of The Beatles, de Dominic Pedler (Omnibus Press, 2003).
Revolution in the Head, de Ian MacDonald (Fourth Estate, 1994), é igualmente exemplar. MacDonald utiliza a mesma abordagem música por música deste livro, e seus insights e a profundidade de seu conhecimento sobre música popular dos anos 1960 são incomparáveis.
Este também não é um livro que explica o que os Beatles "realmente queriam dizer". Apesar de delinear a origem de muitas canções e fazer referência a fatores psicológicos que, acredito, influenciaram na composição, deixei a tarefa da interpretação para outros. Se você de fato quiser saber o que Paul quis dizer, leia um livro como Paul McCartney: From Liverpool To Let It Be, de Howard DeWitt (Horizon Books, 1992), ou, se quiser entender o percurso do desenvolvimento intelectual de John, leia The Art and Music of John Lennon, de John Robertson (Omnibus, 1990), ou John Lennon's Secret, de David Stuart Ryan (Kozmik Press, 1982).
O que tentei fazer foi simplesmente contar a história de como cada canção surgiu. Pode ter sido uma inspiração musical, como tentar escrever ao estilo de Smokey Robinson. Pode ter sido uma frase que ficou na cabeça, como "pools of sorrow, waves of joy",1 verso que compeliu John a escrever "Across The Universe". Ou pode ter sido um incidente, como a morte do rapaz Tara Browne, da alta sociedade, que levou à composição de uma parte de "A Day In The Life".
Minha fonte principal foram as palavras dos próprios Beatles. Tive a sorte de conhecer John e entrevistá-lo com Yoko no escritório da Apple em Savile Row no verão de 1971, pouco antes de Imagine ser lançado. Eu me lembro de parabenizá-lo pela natureza pessoal de suas novas canções, que surgiram depois de um intenso período de terapia. "Minhas músicas sempre foram pessoais", ele respondeu. "'Help!' era pessoal. 'You've Got To Hide Your Love Away' era pessoal. 'I'm A Loser' era pessoal. Sempre tive esse ímpeto."
Só conheci Paul em 1992, quando fui convidado a ajudar Linda a escrever o texto de seu livro de fotos, Linda McCartney's Sixties: Portrait Of An Era. Eu esperava que Paul contribuísse com as próprias lembranças, mas ele alegou que um projeto como esse merecia toda a sua dedicação, com o que não poderia se comprometer por falta de tempo. Mesmo assim, ele apontou algumas discrepâncias nas histórias que eu havia coletado até então para que eu pudesse modificá-las.
Como os comentários mais confiáveis sobre as canções são aqueles feitos pelos próprios Beatles, extraí muita coisa das entrevistas publicadas que reuni desde o início do meu primeiro álbum de recortes sobre os Beatles, em 1963. Aquelas que perdi, pesquisei na National Newspaper Library e na National Sound Archives, em Londres. Tive de voltar inúmeras vezes a sete textos inestimáveis, sem os quais eu não teria sabido por onde começar. Em ordem de publicação: a entrevista de Alan Aldridge com Paul McCartney publicada como "A Good Guru's Guide To The Beatles' Sinister Songbook" (Observer, Londres, 26 de novembro de 1967); The Beatles, de Hunter Davies, 1968; "Lennon: The Greatest Natural Songwriter of our Time", de Mike Hennessey (Record Mirror, 2 de outubro de 1971); Lennon Remembers, por Jann Wenner, 1971; I Me Mine, de George Harrison, 1980; The Playboy Interviews, com John Lennon e Yoko Ono, 1981, e Paul McCartney: Many Years From Now, de Barry Miles, 1997. Há também duas séries de rádio que esclarecem detalhes sobre as composições: McCartney On McCartney, de Mike Read, transmitida na bbc Radio 1, em 1989, e The Lost Lennon Tapes, uma produção americana com as fitas da coleção particular de John.
Por mais esclarecedoras que todas tenham sido, elas não me contaram a história inteira. Eu queria entrevistar as pessoas que estavam ao redor deles quando as canções foram escritas ou que serviram de tema para elas. Também queria localizar artigos de jornal e livros que serviram de inspiração e visitar lugares que motivaram canções. Também desejava surpreender os próprios Beatles remanescentes porque tinha certeza de que eles não sabiam quem de fato era o "Mr. Kite" ou que fim havia levado a garota cuja história inspirou "She's Leaving Home".
O livro definitivo sobre o tema não será escrito até que os diários, cartas e cadernos de John e George sejam tornados públicos, e até que Paul e Ringo compartilhem tudo de que se lembram sobre as 208 canções gravadas pelos Beatles. O mais provável é que os arquivos de John continuem trancafiados por um bom tempo, porque parte importante dos registros dele trata de pessoas ainda vivas, e Yoko acredita que seria delicado divulgar. A série de televisão em seis partes The Beatles Anthology e a "biografia" dos Beatles que veio junto foram decepcionantes para quem esperava que os membros remanescentes contassem histórias inéditas.
É por isso que valeu a pena compilar este livro. Ele pode ser o mais próximo que chegaremos de entender como os Beatles fizeram a mágica de suas composições.
Steve turner
Londres, novembro de 1998 e março de 2005
LUCY IN THE SKY WITH DIAMONDS
Autoria: Lennon/ Mccartney
duração: 3' 28"
Lanç. no Reino Unido: álbum Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band, 1º. de junho de 1967
Lanç. nos EUA: álbum Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band, 2 de junho de 1967
Uma tarde, no começo de 1967, Julian Lennon voltou do jardim de infância para casa trazendo nas mãos um desenho colorido da sua coleguinha, Lucy O'Donnell, de quatro anos. Ao explicar a obra de arte ao pai, Julian disse que era Lucy "no céu com diamantes".
Essa frase impressionou John e deu início às associações que levaram à composição da onírica "Lucy In The Sky With Diamonds", uma das três faixas de Sgt Pepper que supostamente "falavam de drogas". Apesar de ser improvável que John tivesse escrito essa fantasia sem nunca ter experimentado alucinógenos, a música foi igualmente afetada pelo seu amor pelo surrealismo, pelos jogos de palavras e pela obra de Lewis Carroll.
Logo que se apontou que as iniciais da canção formavam a sigla LSD parecia estar comprovado que a música era a descrição de uma viagem provocada por ácido lisérgico. Ainda assim, John negou isso veementemente, tanto em público quanto em particular, mesmo nunca tendo hesitado em discutir músicas que de fato faziam referência às drogas. Ele insistia que o título tinha vindo do que Julian dissera sobre a sua pintura. O próprio Julian recorda: "Não sei por que eu dei aquele nome nem por que se destacou entre todos os meus outros desenhos, mas eu obviamente gostava muito de Lucy. Eu mostrava tudo o que fazia ou pintava na escola ao meu pai, e esse desenho levou à ideia de uma música sobre Lucy no céu com diamantes".
Lucy O'Donnell (que atualmente é professora de crianças com necessidades especiais) vivia perto da família Lennon, em Weybridge, e ela e Julian eram alunos da Heath House, um jardim de infância administrado por duas senhoras em uma construção eduardiana. "Eu me lembro de Julian na escola", conta Lucy, que só soube aos 13 anos que havia sido imortalizada por uma canção dos Beatles. "Eu me lembro bem dele. Posso ver seu rosto claramente... nós costumávamos sentar lado a lado naquelas carteiras bem antigas. A casa era enorme, e havia cortinas pesadas para dividir as salas. Pelo que me disseram Julian e eu éramos duas pestes."
John afirmou que as imagens de alucinações na canção tinham sido inspiradas pelo capítulo "Lã e água" de Através do espelho, de Lewis Carroll, em que Alice é levada rio abaixo em um barco a remo pela Rainha, que de repente se transforma em um carneiro.
Quando criança, Alice no País das Maravilhas e Através do espelho eram dois dos livros favoritos de John. Em uma entrevista de 1965, ele afirmou que quando criança os relia uma vez por ano. Em outra ocasião, ele declarou que, em parte, foi graças à leitura que ele percebeu que as imagens em sua cabeça não eram indícios de insanidade. "Surrealismo para mim é realidade", ele afirmou. "A visão psicodélica é realidade para mim e sempre foi."
Pelos mesmos motivos, John adorava The Goon Show, programa de rádio britânico com Spike Milligan, Harry Secombe e Peter Sellers transmitido pela BBC entre junho de 1952 e janeiro de 1960. Os roteiros de The Goon Show, escritos principalmente por Milligan, satirizavam figuras do establishment, atacavam o conservadorismo do pós-guerra e popularizavam um humor bem nonsense. A famosa excentricidade de John devia muito aos Goons. Ele disse a Spike Milligan que "Lucy In The Sky With Diamonds" e diversas outras canções tinham sido parcialmente inspiradas em diálogos do The Goon Show.
"Nós costumávamos conversar sobre 'plasticine ties' no The Goon Show, que entrou furtivamente em Lucy como 'plasticine porters with looking glass ties'75," conta Milligan, que, sendo amigo de George Martin, assistiu a algumas gravações de Sgt Pepper. "Eu conhecia bem Lennon. Ele costumava falar muito sobre comédia. Ele era maníaco pelo Goon Show. Tudo mudou quando ele se casou com Yoko Ono. Tudo parou. Ele nunca mais perguntou de mim."
Quando Paul chegou a Weybridge para trabalhar na música, John só tinha o primeiro verso e o refrão. De resto, só algumas frases e versos e imagens trocadas. Paul inventou "newspaper taxis" e "cellophane flowers", e John, "kaleidoscope eyes" 76.
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"The Beatles: A História por Trás de Todas as Canções"
Autor: Steve Turner
Editora: Cosac Naify
Páginas: 384
Quanto: R$ 49,00
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
Livraria da Folha
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