Villa-Lobos é muito falado e pouco tocado, diz intérprete
Villa-Lobos é o gigante musical do qual muito se fala, mas cuja música pouco se toca, e o cinquentenário de sua morte parece reforçar essa dicotomia. Se os lançamentos fonográficos foram quase inexistentes, e as atividades de concerto também deixaram a desejar, as melhores homenagens à efeméride vieram da área editorial.
Bons livros sobre o compositor não faltaram ao longo do ano e, dentre eles, vale destacar "Folha Explica Villa-Lobos", uma profunda, informada, atualizada e muito bem escrita síntese da vida e da obra do maior músico brasileiro de todos os tempos, útil tanto para leigos quanto para especialistas, feita por um de seus melhores intérpretes: Fabio Zanon.
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O maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), o mais importante compositor brasileiro de música erudita |
Dotado de técnica apurada e musicalidade superlativa, Zanon exprime-se verbalmente com a mesma fluência e naturalidade com que o faz ao dedilhar seu instrumento, o violão, como bem sabem os ouvintes que acompanhavam seu extinto programa de rádio "A Arte do Violão".
Com uma erudição que passa bem longe do pedantismo, ele empenha sua prosa agradável e acessível na tarefa de elucidar o universo do autor das "Bachianas Brasileiras", um compositor que criou sua própria imagem em vida e que, portanto, nem sempre é a fonte mais confiável a respeito de si mesmo.
Muitos estudos a respeito do músico já buscaram desconstruir os mitos sobre ele, e um dos méritos de Zanon é relativizar tanto as lendas quanto sua desconstrução.
Assim, por um lado, ele mostra o quão pouco há de comprovado nas inúmeras viagens que Villa-Lobos teria feito pelo Brasil na juventude e coloca em dúvida a existência de muitas partituras do compositor tidas como "perdidas". Por outro, rejeita a visão de um Villa-Lobos oportunista que, quando esteve em Paris, nos anos 1920, "investiu como um touro louco em sua autopromoção".
Mais louvável ainda é seu esforço de aquilatar a produção do compositor, superando a superficial discussão do caráter "nacional" de sua obra e mostrando como a visão altamente pessoal que ele tinha dos mesmos problemas que afligiam seus contemporâneos faz com que sua música mereça figurar nos programas de concertos com a mesma frequência de Bartók, Stravinski ou Falla.
Para Zanon, "não é o fato de se servir da cultura popular que fez dele um compositor único, mas a maneira como conseguiu encontrar nessa cultura os fios mais adequados e os entrelaçou à sua complexa trama composicional". Foi nesse processo que ele acabou elaborando "uma maneira brasileira de se expressar em música, que imprimiria uma marca forte a outros processos culturais".
A conclusão não poderia ser mais clara nem mais pertinente: "Villa-Lobos criou uma possibilidade de música brasileira, em vez de ser criado por ela. Ele tornou-se folclore".
FOLHA EXPLICA VILLA-LOBOS
Autor: Fabio Zanon
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 18,90 (120 págs.)
Avaliação: ótimo
Livraria da Folha
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