Mostra no MIS destaca o mundo surreal de Kertész
André Kertész, o fotógrafo surrealista húngaro, viveu anos em Paris e se radicou em Nova York, mas nunca aprendeu bem francês ou inglês.
Tal como a língua materna, seu estilo também foi algo à parte no espectro da fotografia moderna, carregado de metáforas, grandes distorções e sentidos ocultos.
Talvez por isso o artista morto há 27 anos, aos 91, não tenha sido reconhecido em vida como pai do fotojornalismo, alcunha que detém hoje, nem como expoente do surrealismo que dominava a capital francesa nos anos 1920.
Kertész, agora tema de uma exposição no Museu da Imagem e do Som, construiu um estilo intimista, com modelos em estúdio, e cenas banais tratadas com um verniz bizarro, quase descoladas de sua realidade aparente.
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'Danseuse Burlesque', fotografia de Kertész, agora no MIS |
Um nadador retratado sob a água vira um corpo luminoso e disforme. Mulheres vistas em espelhos de distorção são reduzidas a membros decepados, agigantados e esticados --curvas femininas despidas de sensualidade.
Mas ao contrário de seus pares surrealistas --como Man Ray, que viveu em Paris na mesma época--, Kertész não manipulava negativos.
Traumatizado por ter sido soldado na Primeira Guerra Mundial, quando levou um tiro no braço direito, o fotógrafo se recusava a passar horas trancado no quarto escuro. De certa forma, as distorções que retratava estavam diante de sua objetiva.
Nesse ponto, seus primeiros experimentos fotográficos --ainda nas trincheiras do campo de batalha ou em casa, com a mãe e os irmãos-- já traziam essa vontade de retratar a pura estranheza que transborda do cotidiano.
"Demoraram para entender a fotografia dele, e seu reconhecimento chegou tarde", diz Michael Houlette, do Jeu de Paume, museu parisiense que organizou a mostra do MIS. "Ele não se expressava bem em quase nenhuma língua e por isso trabalhava muito bem com metáforas."
Seus jogos de linguagem, no entanto, não agradaram sempre. Depois de alcançar fama em Paris e publicar imagens na pioneira "Vu", a "Harper's Bazaar" estranhou seu estilo nos primeiros editoriais que encomendou.
Nos Estados Unidos, Kertész teve de domar sua ousadia nos trabalhos comerciais, mas, na obra pessoal, por exemplo, retratou até mesmo a cidade de Nova York sob um viés distorcido, uma metrópole dotada de personalidade, perversa e gigantesca.
Foi na mesma cidade que Kertész acabou consagrado com uma mostra no MoMA anos mais tarde, em 1964.
ANDRÉ KERTÉSZ
QUANDO: abre na quinta (3), às 19h; de ter. a sex., das 12h às 22h; sáb. e dom., das 11h às 21h; até 24/6
ONDE: Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158, tel. 0/xx/11/2117-4777)
QUANTO: R$ 4
Livraria da Folha
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